PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ROMANCE
(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)
- Ti Antonho Cristove conte
aquele causo da viagem,,,
Os olhos do velho brilham.
Isso foi há tanto ano,
dantes do “navio do açucre”…
A barca do capitão Fidalgo chego
e os verdes imbarcaro.
A noite era escura e fria
e a ronda andava por perto.
Mar.
Mar para todos os lados.
E as ganhoas piando
dentro do nevoeiro.
A ilha ficou para lá do horizonte
com uma lágrima quente de saudade.
Depois…
Nas horas longas da vigia
Antonho Cristove subiu aos mastros.
Trancou baleias em todos os mares
- nas águas frias do Ártico,
no mar quente do Pacífico.
E lembra aquele raituel
que um dia virou a canoa
e matou um rapaz do Corvo.
(Sangue da baleia,
sangue do marinheiro morto
tingindo o mar.
Lágrimas de marinheiros
juntam-se ao mar.)
Antonho Cristove
tripulante de todos os veleiros
correu todos os oceanos,
conheceu os portos todos,
soube a fúria dos tufões
e as calmarias do Golfo.
… e ficaram marcadas no corpo
raivas de capitães americanos,
de capitães açorianos,
de capitães de Cabo Verde…
A ilha sempre dentro em si
e a esperança de voltar.
Uma fuga em cada porto
e outra barca em que embarcar…
Mulheres de toda-a-gente
nas quatro margens da Terra…
Companheiros de aventura,
há tanto tempo os perdeu:
águas do mar os levaram,
terra da terra os cobriu.
Ti Antonho Cristove conta a sua vida
e os seus olhos descurados
olham ainda p’ra o mar
num jeito de quem navega