Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


A GROTA DOS PAUS BRANCOS

Quinta-feira, 24.11.16

A Grota dos Paus Brancos, como a maioria das grotas e ribeiras da Fajã Grande, situava-se na rocha. Neste caso recebeu o nome não apenas da rocha por onde deslizava e escorria, mas também do lugar onde as suas águas caíam perdendo-se na Ribeira dos Paus Brancos, ainda afluente da Ribeira das Casas e muito distante dela. A grota escoava-se pela rocha dia e noite, com enorme afluência de água, através de inúmeros veios, regatos e grotões, entre o verde dos arvoredos, dos fetos e da cana roca, a serpentear por entre rochedos, caindo, finalmente, em chão raso, onde formava uma espécie de rego que ia alimentando uma ou outra lagoa ali existente, indo finalmente aumentar o curso da ribeira que ladeava a rocha desde os Lavadouros até à rocha das Águas.

A Rocha dos Paus Brancos que dava o nome à grota, situava-se por baixo do alto do Rochão Grande, do Rochão Tamusgo e do Curral das Ovelhas, situados lá bem altos, no Mato. Na década de cinquenta ainda existia uma vereda de acesso ao mato pela Rocha dos Paus Brancos quase paralela à grota, mas muito pouco utilizada como forma de acesso ao Mato. Apenas servia como caminho para quem tinha propriedades naqueles andurriais. Do lado sul, ou seja da banda da Fajãzinha a, Rocha dos Paus Brancos ligava-se a Mateus Pires e à Rocha da Alagoinha. A sul prolongava-se até à Escada-Mar. Como a das suas congéneres, a água da Grota dos Paus Brancos escorria da rocha, era muito abundante e alimentava, exuberantemente, as pastagens e terrenos circundantes, transformando alguns em verdadeiros pântanos, fazendo com que a erva crescesse tanto que as assemelhava às lagoas das Covas, da Ribeira das Casas, da Figueira, das Águas, embora com o senão de ficarem bastante distantes do povoado. Assim como noutras grotas, nomeadamente na do Vime, lá para os lados da Ponta e na da Figueira, a Grota dos Paus Brancos também sulcava a rocha em escarpas por onde descia em pequenos veios de água, uns a enriquecerem o caudal da grota, um ou outro a escorrer, isoladamente, até ao sopé da rocha, perfurando chão, a perdendo-se nas suas entranhas, para mais a baixo, já em terreno plano, reaparecer, engrossando o caudal da grota, esta sim a alagar as pastagens e, sobretudo, a alimentar os inhames que por ali proliferavam, criando ao seu redor uma vegetação exuberante. Para além da quantidade, os inhames de água daquelas paragens, assim como os de outras lagoas da Fajã, nomeadamente os da Ribeira das Casas, eram de excelente qualidade.

A origem do topónimo Paus Brancos parece ser de fácil e simples explicação. Decerto que provinha do facto de naquele lugar e até na Rocha com o mesmo nome existirem inicialmente muitos paus-brancos que aos poucos terão desaparecido devido ao arroteamento e transformação de algumas terras de mato em pastagens e lagoas e, mais tarde, devido à plantação de criptomérias.

O pau-branco é uma árvore endémica açoriana, existente em quase todas as ilhas do arquipélago. Atinge os oito metros de altura, tem folhas lanceoladas a ovaladas, com flores brancas e frutos de tom azulado escuro, semelhantes aos da oliveira, árvore a cuja família pertence, mas curiosamente a oliveira não vegeta nos Açores. A sua madeira é muito apreciada e utilizada sobretudo no fabrico de móveis.

Cuida-se que no início do povoamento das ilhas o pau-branco que se desenvolve juntamento com o incenso e a faia, ambos ainda hoje muito abundantes nas ilhas, existiria em grande quantidade nas Açores. No entanto, com o início da colonização, as zonas mais soalheiras e de melhor terreno foram assoreadas dando origem a terrenos agrícolas para cultivo dos cereais ou a pastagens para a criação de gado, o que provocou um enorme desbaste da mancha florestal primitiva. As espécies menos resistentes, como o pau-branco foram as mais prejudicadas. Atualmente, dado o abandono de muitos campos agrícolas e pastagens, as espécies mais persistentes como a faia e, sobretudo, o incenso são as mais privilegiadas e protegidas pela natureza.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:05

A GROTA DA FIGUEIRA

Segunda-feira, 11.04.16

A Grota da Figueira, como todas as outras grotas e ribeiras da Fajã Grande, situava-se na rocha. Neste caso recebera o nome da Rocha onde nascera e pela qual escorria, dia e noite, através de inúmeros veios, regatos e grotões. Era pois na rocha com o mesmo nome que a Grota da Figueira tinha o seu curso e cuja água descia escondida entre o verde dos musgos, a serpentear por entre rochedos, caindo, finalmente, em chão raso, onde formava uma espécie de rego que ia alimentando as ervas das várias lagoas que ali existiam.

A Rocha da Figueira, a tal que dava o nome à grota, situava-se paredes meias com a Rocha propriamente dita, aquela que dispunha da principal vereda de acesso ao Mato. Do lado sul ou seja da banda da Fajãzinha a, Rocha da Figueira ligava-se ao Cabeço da Rocha e à Escada-Mar que se prolongava até aos Paus Brancos. Era aí que tinha o início do seu curso a grota que possuía uma enorme importância para os donos das pastagens do lugar da Figueira, estas sim, já situado em terreno chão, nos arrabaldes da rocha, formando um enorme vale, encastoado ente a Rocha e a Silveirinha. A água que escorria da rocha, de tão abundante que era, alimentava de tal modo as pastagens circundantes do lugar da Figueira, transformando-as em terrenos pantanosos, fazendo com que a erva crescesse tanto que as transformava em lagoas como as das Covas, da Ribeira das Casas, das Águas, etc. Como grota assumia a forma de rego por onde corria, havia entre os donos dos terrenos existiam espécies de leis consuetudinárias que iam determinando o modo e o tempo como cada propriedade se havia de abastecer equitativamente da água. É que assim como noutros lugares, nomeadamente na sua congénere Rocha do Vime, lá para os lados da Ponta, a Rocha da Figueira também era quase toda ela sulcada por pequenos veios de água, uns a enriquecerem o caudal da grota, um ou outro a escorrer, isoladamente, até ao sopé da rocha, perfurando chão, a perdendo-se nas suas entranhas, para mais a baixo, já em terreno plano, reaparecer, engrossando o caudal da grota, esta sim a transformar as pastagens ali existentes em lagoas, onde juntamente com a erva, também cresciam inhames e até floresciam agriões, muito utilizados na humilde culinária fajãgrandense.

Era assim a Grota da Figueira não só a contribuir para a frágil e débil economia de quem tinha ali propriedades mas também a conferir aquele lugar e à rocha sua homóloga uma beleza extraordinária, uma frescura paradisíaca e uma riqueza prosperante. Era a erva, de excelente qualidade, a alimentar as vacas leiteiras e os inhames e os agriões a engrandecerem o cardápio dos humanos. Para além da quantidade, os inhames daquelas paragens, assim como os de outras lagoas da Fajã, nomeadamente os da Ribeira das Casas, eram de excelente qualidade.

Não parece nada fácil descortinar a origem deste topónimo. Decerto não seria por terem existido em tempos idos, quer na Rocha quer no chão, figueiras. A figueira propriamente dita, na Fajã Grande florescia nos terenos secos e quentes da beira-mar, quer nas Furnas, quer no Areal e, sobretudo, no Porto, onde cresciam figueiras de figos pretos e de bacorinhas, sobre os maroiços junto com uma ou outra parreira. Por sua vez a figueira dos tão apreciados figos pingo de mel crescia junto das casas e também não existia naquele lugar. É possível que outrora tenha existido naquele sítio, para espanto de todos e excecionalmente, uma única figueira e, esse facto, tenha merecido a atenção de quantos ali passavam e dado nome ao lugar e à rocha. É uma hipótese. Outra é a de que existe uma espécie de figueira que tem o seu habitat em terrenos húmidos, conhecida como figueira-brava, mas não consta que esta existisse na ilha das Flores. Também há quem chame à hera, figueira-trepadeira, uma planta com raízes adventícias pequenas que se prendem a qualquer superfície, incluindo pedregulhos, permitindo que a planta cresça nas rochas, hipótese que também não parece muito viável, apesar de ali existir muita hera

Resta uma última hipótese. Seria alguém de nome ou apelido Figueira que tivesse qualquer relação com aquele lugar, assim como o lugar de Mateus Pires, o Ilhéu do Constantino e outros lugares da toponímia fajãgrandense. É verdade que o apelido Figueira não era muito comum na Fajã Grande na década de cinquenta, mas também é verdade que o topónimo Figueira e seus derivados que deriva do latim vulgar ficulnea, é bastante comum em Portugal e na Galiza, assim como os seus derivados Figueiral, Figueiras, Figueirinha, Figueirinhas, Figueiros, Figueirosa, Figueiroso, Figeiró, etc. Existem também na língua portuguesa algumas palavras parecidas com figueira, como fagueira, fogueira, figura, figurei, fuseira, faisqueira ou até o apelido Fragueiro ou Fragueira, este sim muito comum na Fajã Grande. Qualquer uma delas poderia ter evoluído, popularmente, para Figueira.

Mas ficará sempre a dúvida. O certo é que a Grota da Figueira, situada na Rocha com o mesmo nome, lá bem no coração da Fajã Grande, sempre foi e talvez permaneça ainda hoje como um dos cursos de água mais importante, mais histórico e mais emblemático da Fajã Grande, uma espécie de subafluente da Ribeira das Casas que com o seu caudal engrandecia uma das principais ribeiras que atravessava a freguesia designada simplesmente por Ribeira e que não era mais do que a continuação da Ribeira dos Paus Brancos que ia desaguar na Ribeira das Casas, já muito perto da foz desta.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:05

A ÁGUA

Sábado, 04.07.15

A água é um bem natural, um recurso indispensável à vida. Possui um enorme valor económico, ambiental e social, fundamental à sobrevivência do homem e à subsistência dos vários ecossistemas do planeta Terra. A água, pois, é fundamental para o homem porque é um recurso natural único, escasso e essencial não apenas à sua vida mas também à vida de todos os seres vivos. Uma zona do planeta abundante em água é fértil e produtiva. Por sua vez, as zonas onde falta este importante recurso natural são áridas e desertas.

Ora a Fajã Grande era um lugar muito fértil em água. Embora a sua vizinha Fajãzinha fosse considerada a freguesia açoriana com mais água no subsolo, a Fajã não lhe ficaria muito atrás. Primeiro porque debruada a oeste por uma enorme e extensa orla marítima, muito recortada e assimétrica, com imensas enseadas, baías e caneiros a penetrarem por terra dentro e a vazar-lhe salpicos de salmoura e respingos de maresia. Depois a rocha que a protegia dos ventos de leste, por onde desciam várias ribeiras e dezenas e dezenas de grotas e veios de água. Muitas das ribeiras, depois de cair em deslumbrantes cascatas, deslizavam pelo chão, até desaguar no mar, povoadas, por vezes, de belos e frescos lagos e prolongadas por estreitos e úteis regos. Os primeiros destinavam-se a lavadouros de roupa e bebedouros de animais, outros transformavam-se em força motriz que movia os moinhos. Noutros casos as ribeiras, ao atirarem-se, do alto e abrupto rochedo, caíam no chão, formando poços, sendo os mais emblemáticos e míticos o do Bacalhau e o da Alagoinha, hoje transformados em interessantes pontos turísticos. Por vezes a água das ribeiras era desviada através de regos e levada não apenas para os moinhos mas para rega de campos mais distantes. Em diversos lugares, como as Covas, a Ribeira das Casas, a Figueira, as Águas, os Paus Brancos e o Curralinho, a água que brotava do subsolo era tanta que encharcava os terrenos, transformando-os em pântanos. Eram as lagoas, onde a erva, devido à permanência constante da água a jorrar de dentro da Terra, crescia abundantemente, obrigando a que fosse ceifada e trazida para os palheiros para alimento das vacas leiteiras. Nestas lagoas e nas margens das ribeiras, também devido à abundância de água, cresciam inhames e agriões sem que fosse necessário trabalhá-los.

A freguesia possuía água canalizada desde a década de cinquenta, sendo esta captada do subsolo r armazenada num tanque ou depósito que existia no Alagoeiro. Os fontanários, chamados fontes, eram cerca de uma dúzia, espalhados pelas várias ruas e os poços do gado cinco ou seis sendo que nalguns a torneira, reduzida a um simples tubo, estava sempre aberta, como no caso do poço do Alagoeiro, o maior da freguesia. Fora do povoado existiam muitas outras nascentes de água, algumas delas também transformadas em chafarizes, como o de Santo António, no caminho que dava para a Cuada, o do centro da Cuada e o da Rocha, onde existia o mais mítico e emblemático de todos – a Fonte Vermelha.

Com tanta água não admirava pois que esta palava entrasse na Toponímia da freguesia. Eram vários os lugares com o nome “água”. Uma rua chamava-se Via d’Água e outra Fontinha, Havia os lugares de Baía d’Água, Pedra d’Água, Água Branca, Águas e muitos outros com nomes relacionados com a água, como Lagoinha, Alagounha, Fonte Velha, Fonte Nova, Fonte Simão. Lavadouros, Alagoeiro, Fontecinma, Tanque, Grota da Lagoinha, etc.

Além disso a Fajã Grande ainda tinha a água da chuva que, sobretudo no inverno, caía diariamente sobre o povoado, encharcando, alagando, molhando e, muitas vezes, impedindo o trabalho nos campos.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:05

A RIBEIRA GRANDE II

Quinta-feira, 12.02.15

Paredes meias com a Fajã Grande ficava a freguesia da Fajãzinha. A separá-las o imenso e por vezes intransponível caudal que era Ribeira Grande. Apesar de vizinhas, na década de 50, as duas freguesias ainda ficavam, muitas vezes, sobretudo o inverno, separadas, sendo impossível deslocar-se de uma para a outra. As crianças e os mais idosos que se aventuravam sair de casa e percorrer o Caminho da Missa, a fim de irem esperar os americanos e outros passageiros vindos no Carvalho, ficavam pela Eira da Cuada, junto ao Calhau de Nossa, lá no alto, no início da descida da ladeira do Biscoito.

Na verdade, a Ribeira Grande, com o seu imenso caudal sólido, embora constituísse uma benesse para as duas freguesias, era uma ameaça e um estorvo, sobretudo para a Fajã Grande. Por vezes, a força do seu caudal era tão grande e tão forte que era sempre muito difícil construir pontes capazes de resistir às enxurradas em que era fértil. Uma das muitas tentativas ocorreu em 1789, sob a orientação do juiz de fora José Gonçalves da Silva, sendo então construída uma ponte de pedra sobre a Ribeira Grande, construção formidável para a época, mas que ficou como a ponte da má memória, pois nas palavras do padre Camões.

Reza a história que em 1794, quando a Fajã Grande ainda era um simples lugar, pertencente à freguesia das Fajãs, houve uma grande inundação e uma enchente que derrubou a velha e frágil ponte ali existente de modo que nem sequer ao menos della ficou o menor vestigio, sem rasto, saindo de seo leito natural a dicta ribeira que no desembocar no mar deixou um areal largo em maior distancia de 300 braças com uma perda inextimavel dos pobres lavradores que possuião terras a ella contiguas, que todas ao mar foram derregadas.

Igual destino tiveram várias tentativas de outras pontes para atravessamento, todas elas destruídas por caudalosas torrentes. A penúltima derrocada aconteceu em 1964, com a destruição da ponte de madeira ali colocada alguns anos antes. Finalmente, mm Novembro de 1996, o forte caudal da Ribeira Grande destruiu a ponte da estrada que liga a Fajãzinha à Fajã Grande, junto à Ladeira do Pessegueiro. Pouco depois foi construída, a jusante da antiga, uma grande e moderna ponte em betão, com um vão dezenas de vezes superior ao anterior.

A Ribeira Grande é, na realidade, a maior torrente da ilha das Flores, que, apesar de bela e majestosa com as suas gigantescas cascatas, das quais a maior tem cerca de 300 m de altura, provocou, através dos tempos, através das suas monumentais enxurradas, inúmeras inundações que muitas vezes prejudicaram a própria freguesia da Fajãzinha e impedindo os habitantes da Fajã de a atravessarem, numa altura em que grande parte da sua vida, sobretudo religiosa, como batizados, casamentos e funerais eram celebrados na Fajãzinha. Conta-se que nessas ocasiões, os habitantes da Fajã Grande, impossibilitados de atravessar a Ribeira para assistir, ficavam no alto da Eira da Cuada, de um lugar de onde viam a igreja da Fajãzinha. Essa a razão por que existia lá um calhau chamado Pedra da Missa.

O Padre Camões descreve a Ribeira Grande nestes termos: Passado aquela povoação encontra-se logo a Ribeira Grande, que divide a freguesia, (…) e se encareceo a sua força e impetuosidade que certamente é grande. Cai a dicta ribeira de uma formidavel cachola, eminente à freguesia da Fajanzinha, a que dão de altura 200 braças: e caida; vem successivamente encorporar-se e ajuntar-se a ella todas as agoas da rocha, que serve de demarcação à freguesia, desde leste a sueste, e vem a ser a Ribeira dos Ferreiros, 4 grotas, sem nome na rocha chamada – a Rocha do Velho, a grota do Enchente, cujas águas engrossão e infurecem tanto que de inverno, e ainda mesmo havendo chuvas, de verão a fazem invadeavel.

O local por onde corre a Ribeira Grande é uma zona de relevo marcado pela presença de grandes falésias e enormes rochedos expostos, formando, no entanto, uma paisagem de grande beleza e, além disso, por mais de quatro séculos abasteceu de aguadas a navegação que sulcou os mares entre o Velho e Novo Mundo.

Acredita-se que a zona das Fajãs, embora a última parte da ilha das Flores a ser povoada, terá começado a ser desbravada em meados do século XVI, com os primeiros núcleos populacionais estáveis a surgirem nas primeiras décadas do século seguinte. Assim cuida-se que o lugar das Fajãs já estaria estruturado como povoado no início do seculo XVII, uma vez que o lugar da Fajãzinha foi em Julho de 1676, por provisão do bispo de Angra D. frei Lourenço de Castro, desanexado da vila das Lajes das Flores, à qual pertencia apesar da grande distância e maus caminhos, e erecto na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios das Fajãs, então com sede na igreja de Nossa Senhora dos Remédios, com jurisdição que abrangia toda a costa oeste da ilha, desde a Ponta da Fajã até ao Mosteiro, englobando assim os lugares de Ponta, Fajã Grande, Caldeira e Mosteiro e outros, na década de 50 já despovoados, como a Fajã dos Valadões. a Ribeira da Lapa, o Pico Redondo e os Pentes.

 

NB – Alguns destes dados foram retirados da net.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 10:31

CASCATA DO POÇO DO BACALHAU OU DA RIBEIRA DAS CASAS

Domingo, 06.04.14

O site Cascatas de Portugal apresenta a lista das 35 cascatas existentes no nosso país, das quais 4 se situam nos Açores, sendo uma destas a Cascata do Poço de Bacalhau, localizada bem no coração da freguesia da Fajã Grande, na ilha das Flores. Das restantes três cascatas ou quedas de água açorianas, uma outra também se localiza na ilha das Flores, precisamente, na fronteira entre as freguesias da Fajã Grande e Fajãzinha, sendo as outras duas, uma em São Miguel, mais concretamente, na freguesia do mesmo nome, no concelho da Povoação, enquanto a outra, a Cascata da Fajã de Santo Cristo, se localiza no Percurso Pedestre da Caldeira da Fajã de Santo Cristo, concelho das Calheta, ilha de São Jorge, apresentando-se, no entanto, como cascata dotada de uma queda de água relativamente pequena, pois a sua altura não ultrapassa os 10 metros, enquanto a do Poço do Bacalhau ou da Ribeira das Casas, quase atinge os 100 metros. Verdade, no entanto, é que, pelo menos no que à ilha das Flores em geral e à Fajã Grande em particular diz respeito, muitas outras cascatas ali existem, assim como na freguesia da Fajãzinha. Essa a razão, por que a ilha das Flores foi apelidada de Ilha das Cascatas.

A Cascata do Poço do Bacalhau localiza-se no percurso da Ribeira das Casas, quando, ao chegar à beira da Rocha lança-se abruptamente até ao poço que lhe dá o nome. Depois de aquietar neste as suas águas flavescentes, a Ribeira das Casas continua num pequeno percurso mas sinuoso percurso, ora alimentando moinhos ora abastecendo lagoas, na direcção do mar, através de um vale ladeado por duas elevações de terreno resultantes de antigas derrocadas. Na margem direita o Pináculo das Covas e na esquerda as Águas. Esta cascata apresenta-se como uma verdadeira queda-de-água que se precipita por cerca de 100 metros de altura, num abundante e portentoso caudal sobretudo nas épocas mais chuvosas, sendo que, mesmo durante a época estival o seu nível de água torna-se mais diminuto ao ponto de esta se dissipar na forma de uma espessa, pesada e abundante neblina na sua precipitação a caminho do solo onde as águas se depositam numa lagoa natural rodeada de vegetação natural e endémica, a conhecida laurisilva da Macaronésia. Esta mítica e lendária lagoa é usada como zona balnear. As águas que abastecem o manancial desta cascata são originarias das nascentes de altitude que brotam das serras centrais da ilha das Flores, uma vez que a Ribeira das Casas tem a sua nascente na longínqua Água Branca, nos contrafortes do Morro Alto, formando um pequeno caudal que se vai avolumando ao longo do seu percurso, não só com a água das muitas grotas que nela desaguam mas também com a captação da humidade resultante das densas camadas de nuvens que se acumulam por sobre a floresta de laurisilva que servem de núcleo de condensação e ao mesmo tempo de regulador e distribuidor da quantidade de água recebida devido à sua densidade e também à quantidade de musgos que atapetam o solo e que vão libertando a pluviosidade recebida de forma lenta e regular.

Em dias de vento forte a cascata adquire uma interessante forma de leque, enquanto nos dias de temporais e derrocadas atinge um matiz negro, muitas vezes carregado de lama, destroços de árvores ou animais em decomposição, a contracenar com os belos dias primaveris, em que limpa e transparente, refracta de forma bela e esplendorosa os raios do Sol poente, transformando-os em belos e deslumbrantes Arco-Íris.

É a seguinte a relação das restantes cascatas de Portugal Continental: Cascata de Fervença, Cascata do Laboreiro, Cascata da Peneda, Cascatas de Taiti, Cascata da Laja, Cascata de Leonte, Cascata do Arado, Cascata de Água Cai d`Alto, Cascata de Fisgas do Ermelo, Cascata de Galegos da Serra, Cascata de Agarez, Cascata de Pitões das Júnias, Cascata da Frecha da Mizarela, Cascata da Cabreia, Cascata da Pantanha, Cascata da Fraga da Pena, Cascata da Pedra da Ferida, Cascata do Penedo Furado, Cascata do Poço do Inferno, Cascata do Pulo do Lobo, Cascata do Pego do Inferno, Cascata do Pomarinho, Cascata da Torre, Cascata do Cadouços, Cascata Queda do Vigário, Cascata do Olho de Paris, Cascata de Penedos Altos, Cascata da Ribeira de Alface, Cascata do Véu da Noiva. Cascata das 25 Fontes e Cascata da Levada Nova da Ponta do Sol, sendo que as últimas três se localizam na Região Autónoma da Madeira.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 09:20

A GROTA DO VIME

Sábado, 11.01.14

A Grota do Vime, situava-se na Rocha com o mesmo nome. Uma e outra houve jus àquela nomenclatura pelo facto da rocha, ali, ser sulcada por vários pequenos veios de água, a maior parte deles afluentes da grota e que faziam com que por ali nascessem, crescessem e se desenvolvessem muitas e variadas colónias de vimes.

A Rocha do Vime situava-se a noroeste da Rocha das Covas, para os lados da Ponta, em sítio onde a maior parte dos terrenos pertencia a proprietários, quase todos eles, com residência naquele lugar. Naturalmente que a grota herdou o seu nome da própria rocha e o nome desta, provavelmente, terá a sua origem no facto de o vime ter ali um habitat muito propício ao seu desenvolvimento, ou seja, terrenos muito molhados e alagadiços. Na realidade aquela rocha é quase toda ela sulcada por pequenos veios de água, uns a enriquecerem o caudal da grota, outros a escorrerem até ao sopé da rocha, perfurando chão, a perderem-se nas suas entranhas, para mais a baixo, já em terreno plano, reaparecem sob a forma de nascentes, projectando um água límpida e fresca que transformava as pastagens ali existentes em lagoas, onde juntamente com a erva, cresciam inhames e floresciam agriões.

Era assim a Grota do Vime, a conferir à rocha sua homóloga uma beleza extraordinária, uma frescura paradisíaca e uma riqueza prosperante. Era a erva, de excelente qualidade, a alimentar as vacas leiteiras e os inhames e os agriões a engrandecerem o cardápio dos humanos. Para além da quantidade, a qualidade, porque os inhames daquelas paragens eram dos mais saborosos da freguesia e até da ilha.

Mas a grande riqueza da grota e da rocha estava também na produção do vime. Na realidade o trabalho em vime era muito frequente e importante na Fajã Grande, nos anos cinquenta. A rocha do vime era local que fornecia uma boa parte da matéria-prima utilizada não apenas no fabrico de cestos, mas também de cestas, cabazes e até de cadeiras e outra mobília, nomeadamente berços de crianças.

Na realidade o vime foi um material utilizado desde tempos primitivos, pelo homem, sobretudo entre as populações ligadas ao cultivo dos cereais, para o fabrico de utensílios de transporte dos mesmos. Sabe-se hoje que já na Antiguidade o homem utilizava o vime para fabrico de utensílios de uso doméstico e que algumas civilizações colocaram nos escudos dos seus exércitos, este material, como por exemplo os persas. Referências documentais também nos dão conta da existência e da utilização do vime no Antigo Egipto. O seu uso ter-se-á expandido de forma notória na Idade do Ferro, com grande influência no desenvolvimento cultural de alguns povos, nomeadamente, nos celtas, nossos antepassados. O vime também esteve presente nos primeiros protótipos de balões e aviões, por ter um peso muito leve e oferecer boa resistência. Actualmente os balões de recreio, ainda usam o vime como um dos materiais com os quais são confeccionados, nomeadamente os cestos em que se alojam os passageiros.

Mas é sobretudo nos meios rurais que os objectos construídos com o vime tiveram e ainda hoje têm grande utilidade e importância, embora, actualmente, os objectos feitos com vime sejam apenas objectos de adorno, peças de museu ou elementos integrantes de colecções.

Por tudo isso a Grota do Vime, situada na Rocha com o mesmo nome, permanece hoje como um dos cursos de água mais importante, mais histórico e mais emblemático da Fajã Grande.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 10:00

A RIBEIRA GRANDE - ILHA DAS FLORES

Sábado, 14.12.13

A Ribeira Grande, fronteira natural entre as freguesias da Fajãzinha e Fajã Grande, deslizando serena e pausadamente pela zona de mais elevada pluviosidade das Flores, constitui o maior e mais caudaloso curso de água da ilha. Tem a sua nascente no Pico do Touro, situado lá bem no interior da ilha, a uma altitude de 670 metros e desagua no Rolo da Fajãzinha, muito próximo da rocha da Eira da Quada, pelo que possui uma bacia hidrográfica, muito vasta, possivelmente, a mais extensa das Flores e uma das maiores do arquipélago açoriano, procedendo à drenagem não apenas do Pico do Touro, mas também do Morro dos Frades, da Lomba da Vaca, da Cova da Pedra e de toda a zona envolvente das Lagoas, incluindo a Água Branca e a Ladeira da Burrinha. Além disso, o seu leito, serpenteado e sempre a abarrotar de água límpida e fresca, ladeia a Lagoa da Lomba, a Comprida, a Funda e envolve-se em várias zonas pantanosas que abundam nas proximidades das mesmas. Ao cessar este longo e sinuoso percurso no Mato, a Ribeira Grande atira-se em catadupa, pela Rocha do Velho, transformando-se numa bela e monumental cascata, vindo cair cá em baixo já em terreno quase plano, deslizando por entre arvoredos e prados, ladeada de rochedos e pedregulhos, formando lagos e açudes e espalhando-se por veias e regatos, a alimentar moinhos e lagoas de erva, até desaguar no Oceano Atlântico.

Formando, nos meses de Inverno e nos dias de chuvas torrenciais, um gigantesco e quase intransponível caudal, a Ribeira Grande assume-se como fronteira natural entre a Fajã Grande e a Fajãzinha que, apesar de vizinhas, ficavam, por vezes e por culpa dela, tão distantes e separadas que vir da Fajã à Fajãzinha ou vive versa, era quase um acto heróico, uma aventura e um risco, sobretudo para os mais pequenos, que ao vir esperar os americanos e outros passageiros vindos no Carvalho ficavam pela Eira da Cuada, junto ao Calhau de Nossa Senhora, lá no cimo da ladeira do Biscoito. Mas apesar do seu temível e perigoso caudal constituir uma ameaça permanente para as duas freguesias, a Ribeira Grande sempre constituiu uma benesse para as mesmas, na medida em que as suas águas se transformavam em força motriz para os moinhos, alimentavam as lagoas de erva para o gado, enriqueciam as relvas, fertilizavam os campos e até serviam para branquear as roupas e lavar as tripas dos porcos. Foi também a Ribeira Grande, assim como quase todas as outras da costa oeste das Flores, que abasteceu de aguadas a tripulação de numerosíssimas embarcações que por ali passavam na demanda da América, da África e da Europa.

Ao longo do seu percurso a Ribeira Grande recebe inúmeros afluentes, uns regos minúsculos e outros autênticos regatos, sendo o maior e principal a Ribeira do Ferreira que nela desagua, num lugar pertencente à Fajã Grande, sobranceiro à Fajãzinha chamado “Fajã das Faias”, ali muito perto do Tufo da Cuada.

Foi sempre difícil construir pontes capazes de resistir às enormes enxurradas e às monumentais enchentes e caudalosas torrentes da Ribeira Grande. Uma das muitas tentativas ocorreu em 1789, sob a orientação do juiz de fora José Gonçalves da Silva, sendo, nessa altura, construída uma ponte de pedra sobre a Ribeira Grande. Tratava-se, segundo rezam as crónicas, de uma construção técnica e arquitectonicamente muito avançada para a época, mas que ficou totalmente destruída com uma monumental enchente ocorrida cinco anos depois, que a derrubou por completo. Iguais destinos tiveram várias outras pontes, quase todas construídas no enfiamento da Ladeira do Biscoito, mas todas elas destruídas, mais cedo ou mais tarde, pelas caudalosas e destruidoras e tão frequentes enxurradas. Os últimos desses incidentes aconteceram em 1964, com a destruição da ponte de madeira ali colocada alguns anos antes, e em Novembro de 1996, quando mais uma vez o revoltoso caudal da Ribeira Grande destruiu a ponte da estrada que liga a Fajãzinha à Fajã Grande, no sítio do Pessegueiro. Nessa altura foi construída, a jusante da antiga, uma grande e moderna ponte em betão, com um vão dezenas de vezes superior ao anterior, a fim de que resista àqueles temíveis e violentos caudais.

O padre José António Camões descreveu assim a Ribeira Grande: “Passado aquela povoação (Fajanzinha) encontra-se logo a Ribeira Grande, que divide a freguesia, (…) Cai a dicta ribeira de uma formidavel cachola, eminente à freguesia da Fajanzinha, a que dão de altura 200 braças: e caida; vem successivamente encorporar-se e ajuntar-se a ella todas as agoas da rocha, que serve de demarcação à freguesia, desde leste a sueste, e vem a ser a Ribeira dos Ferreiros, 4 grotas, sem nome na rocha chamada – a Rocha do Velho, a grota do Enchente, cujas águas engrossão e infurecem tanto que de inverno, e ainda mesmo havendo chuvas, de verão a fazem invadeável”.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 09:38

A RIBEIRA DE JOSÉ FRAGA

Sábado, 16.11.13

Uma das mais interessantes, bonitas e constantes ribeiras, das muitas e variadas que a freguesia da Fajã Grande possuía, era a Ribeira de José Fraga, também conhecida por Ribeira da Ponta, dado que ficava situada no lugar da Ponta, atravessando a localidade de lés-a-lés, constituindo um misto de encanto, mistério, persistência e proficuidade. Cheia de pequenos lagos, na sua parte final, quando deslizava por entre as pequenas hortas e as terras de mato do Grotão da Ponta ou, já mais perto do mar, ladeando as belgas, os cerrados e as terras de cultivo do Grotão do Areal, esta Ribeira, cuja origem toponímia se perde no tempo e que naturalmente terá a ver com o nome de algum dos primeiros povoadores deste lugar, proporcionava-se a uma utilidade inequívoca, pois era lugar onde, para além da lavagem da roupa ou das tripas dos porcos, por alturas das matanças, dava de beber aos animais e alimentava os moinhos das suas margens, tornando-se também uma espécie de éden, um local paradisíaco e idílico. O som suave e cavernoso das suas águas, baqueando nos rochedos escalavrados e perfurando terrenos lamacentos, prolongava-se como que em eco ao longo da rocha e simulava sinfonias inverosímeis, cadenciadas e transcendentes e as cores verdes, amarelas e alaranjadas das suas margens adicionadas ao azul esbranquiçado e cristalino das suas águas, transformavam-na numa aguarela natural, mítica e miraculosa. Com a sua nascente nos matos da Ponta, lá para os lados da Caldeirinha, a Ribeira de José Fraga, na sua fase inicial e infantil, até à beira da rocha, deslizava suave e tranquila mas tímida e hesitante por grotões crivados de silvados e hortênsias, alimentando os animais soltos naqueles descampados, servindo de tapume às pastagens que a rodeava. Porém, ao chegar ao cimo da rocha, atirava-se abruptamente e à socapa sobre penedos e andurriais, calcorreando ladeiras e empedrados, sempre paralela e como que a pedir amparo à sua vizinha Ribeira do Cão. No Verão, mal se via a deslizar pelas falésias. Era uma pinga de água a escorrer pela rocha. Era um minúsculo veio a deixar-se cair timidamente por entre os arbustos e os arvoredos de pequeno porte que enxameavam aqueles penedos agrestes e aterradores. No Inverno, porém, o seu caudal excedia-se, tornava-se avassalador e transformava-se como que numa espécie de lençol esbranquiçado dependurado ao longo daquele altíssimo alcantil. Finalmente, mais cá em baixo, no seu último trajecto, já perto do povoado, a Ribeira transformava-se em pequenos lagos, ladeados por pedregulhos, a servirem de passadeiras ou lavadouros, espécies de piscinas naturais junto às quais ainda se podiam encontrar vestígios de alguns moinhos outrora ali existentes.

A Ribeira de José Fraga com toda a sua beleza e funcionalidade tornou-se de grande utilidade para a população da Ponta. Mas em dias de grande tempestade, quando devido a chuvas torrenciais o seu caudal se excedia e ultrapassava as margens, tornava-se uma ameaça permanente, um tormento contínuo, um motivo de acentuada aflição. Foram várias as ocasiões em que de facto a Ribeira de José Fraga se excedeu em demasia provocando o caos e a desolação no povoado.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 14:42

A RIBEIRA DO FERREIRO

Quarta-feira, 30.10.13

A Fajã Grande, integrada numa das maiores fajãs açorianas, era ladeada a Norte, a Leste e a Sul por uma rocha elevadíssima, com uma altura média superior aos 400 metros, atingindo, nos píncaros mais elevados, como o da Rocha da Figueira, quase os seiscentos metros de altitude. Desta alta rocha emanavam numerosas grotas e diversas ribeiras, onde, em muitos casos se soltavam belas e interessantíssimas cascadas. Estas, ora rápida ora lentamente, iam galgando penhascos, saltando andurriais e descendo encostas até caírem por completo no chão. Aí como que se perdiam em pequenos poços ou se dissipavam em lagos, escoando-se, de seguida, por entre pedregulhos e rochedos, ladeando relvados e veredas, serpeando outeiros e planícies, ora formando e alimentando pequenos regatos que penetravam nas relvas e as transformam em lagoas ou correndo caprichosamente por entre penedos e maroiços, alimentando moinhos, dando de beber aos animais e formando aqui ou além pequenos lagos que, ladeados por pedras a servir de lavadouros eram locais privilegiados, onde as mulheres se reuniam para lavar a roupa, para amaciar os cestos de vime ou para branquear as tripas dos porcos.

Uma destas ribeiras, talvez a mais enigmática e misteriosa de todas as da Fajã Grande, era a Ribeira do Ferreiro. Nascendo lá bem no alto, para os lados do Rochão Grande, atravessando o Rochão do Junco e o Rochão Tamujo, a Ribeira do Ferreiro descia a rocha, rápida e flamejante, formando uma das mais belas e graciosas cascatas que proliferavam, na zona do Curralinho e Lavadouros, bem próximo do Poço da Alagoinha. Depois corria ora suave ora altiva e revoltosa, por entre penhascos e ravinas, circundando penedos e desenhando lagos, como uma espécie de fronteira natural entre os Lavadouros e o Curralinho, sem, no entanto deixar de parar, a fim de a enriquecer a beleza e graciosidade do Poço da Alagoinha, o qual também ajudava a alimentar com as suas águas frescas e cristalinas. Continuando a manter-se grandiosa e imponente, a Ribeira do Ferreiro seguia o seu percurso por entre relvas, terras de mato e uma ou outra horta, como que se escondendo por entre um denso e verde matagal, até se juntar, ali para os lados da Fajã das Faias, à Ribeira Grande, da qual constituía o seu maior e mais caudaloso afluente.

Quase esquecida por que encoberta por densa vegetação, a Ribeira do Ferreiro tornou-se mais visível quando da abertura da estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande. Posto a descoberto, nessa altura, uma boa parte do seu leito, foi necessário construir uma ponte, no lugar do Vale Fundo, a fim de ligar a Fajã à Fajãzinha. A abertura da estrada, neste local, no entanto, ficaria assinalada e ensombrada para sempre por um trágico acidente em que perdeu a vida o Corvelo e em que ficaram feridos o Francisco Facha e o Roberto de José Padre.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 09:31





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Fevereiro 2019

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
2425262728