PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUADRAS PARA O SÃO JOÃO
Eu fui à rusga, sozinho,
Na noite de São João.
Encontrei-te p’lo caminho,
Mataste meu coração.
São João à minha porta
E eu sem ter que lhe dar.
Dá-lhe uma canina verde
Pata por no seu altar.
Quem me dera ter um círio,
P’ra acender ao São João,
Ia-lhe pedir com fé,
Teu amor, teu coração..
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TERESINHA DE JESUS
A Teresinha de Jesus
Deu uma queda, foi ao chão
Acudiram três mancebos
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Teresinha deu a mão
Teresinha levantou-se
Levantou-se lá do chão
E sorrindo disse ao noivo
Eu te dou meu coração
Dá laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Da morena mais bonita
Quero um beijo e um abraço.
Popular
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GAZETILHA DA SATA
(Só Amanhã Tenho Avião)
Estou retido em Lisboa
Num amargo e longo dia
Não auguro coisa boa…
Quem viajasse no “Poesia”!
A espera no aeroporto,
Foi, longa, dura e penosa,
Doía cabeça e corpo,
Tinha a alma em polvorosa!
Primeiro, à nave, inspecção
Depois técnica avaria,
A seguir, a tripulação
Trabalhar já não queria
Por fim o voo cancelado…
Já pró hotel, perto fica.
P’ra dormir bem descansado,
E ir à Luz ver o Benfica.
Só amanha, se Deus quiser,
Havemos de ter avião.
Se voo da Sata houver…
Não nos avisem em vão.
A Sata fez o favor,
De dar hotel e comida
Estamos sem grande ardor,
Com esta gaita de vida.
Como se isto não bastasse.
Chegaram turcos, em bica,
Para apoiar o Fenerbace.
Tenha cuidado o Benfica.
Se Aqui Tivesse um Amigo,
Como tenho em S. Miguel,
Ainda hoje ia pró Pico,
Não ficava neste hotel.
Dei uma volta por Lisboa,
Pra esquecer mágoas cruéis
Ainda irei à Madragoa,
A Belém, comer pastéis.
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CANTILENA
Ondinha sobe,
Ondinha desce.
E tu, menina,
Onde estiveste?
Teu pai já dorme,
E tua mãe vela.
Só tu menina,
Estás à janela.
Manhãs de nuvens,
Dias de perigo.
E tu menina
Não tens abrigo?
Lá vem a Lua,
Com grand’eirado.
Só tu menina
Não tens cuidado.
Tua mãe deu-te
Beijos e abraços.
Eram tão ternos,
Meigos, colaços.
Agora, menina
Dorme descansada
Tua mãe a teu lado
Vela-te, acordada.
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JOGRAIS DE NATAL
ELABORADO COM EXCERTOS DE POEMAS DE NATAL DE ALGUNS POETAS PORTUGUESES
(Grupo de vinte e quatro crianças.)
TODAS - Natal, Natalinho, chega de pressa, traz-me um presentinho.
1ª METADE - Nasce mais uma vez, menino Deus!
1.os SEIS - Nasce mais uma vez,
UMA - Neste Inverno gelado,
UMA - Nasce nu e sagrado,
UMA - Nasce e fica comigo.
TODAS - Nasce e fica connosco.
2ª METADE - Nasce mais uma vez, menino Deus.
TODAS - Porque é Natal, é Natal, é Natal!
UMA - Vamos por o sapatinho,
UMA - Lá na chaminé
1ª METADE - É a noite de Natal, no meu país, agora,
UMA - Dois milhões de almas e outros tantos corações,
UMA - Põem de parte ódios, torturas e aflições.
UMA - Vejo a estrela que percorre a noite larga.
UMA - Vejo a estrela que perturba fundos mares,
UMA - Vejo a estrela que revela a eternidade.
UMA - Mas para onde foi a estrela contemplada?
TODAS - Estrela, estrelinha…
2ª METADE - A noite já se avizinha.
1ª METADE - As luzes já estão a cintilar.
UMA - E os animais a descansar.
UMA - Guardavam os pastores o rebanho,
UMA - Nas vigílias da noite de Belém
UMA - E a glória do Senhor resplandeceu,
UMA - Para lhes anunciar supremo bem
1.as SEIS - Ó pastores do monte e prado,
2.as SEIS - Acordai por vosso bem,
1ª METADE - Ide já guardar o gado,
2ª METADE - P`ra ver Jesus em Belém.
TODAS - Pastorinhos de Belém, é pois certo,
UMA - Que na noite de Natal,
UMA - Num curral,
1ª METADE - Baixou o Filho de Deus, lá dos céus.
TODAS - Sede bem vinda, noite sem par, trazes encanto a cada lar.
2.as SEIS - Noite de paz.
3.as SEIS - Noite de luz.
4.as SEIS - Numa gruta de Belém,
1.as SEIS - Nasceu o Menino Jesus.
UMA - Eu hei-de dar ao menino uma fitinha pró chapéu;
UMA - E ele também me há-de dar:
UMA - Um lugarzinho no Céu.
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal!
1ª METADE - Foi na noite de Natal,
2ª METADE - Noite de santa alegria.
TODAS - Em que o mundo parou e o menino nasceu.
1.as SEIS - Nasceu num estábulo,
UMA - Pequeno e singelo.
UMA - Ao lado do menino,
UMA - O homem e a mulher.
1ª METADE - Uma tal Maria
2ª METADE - Um José qualquer.
TODAS - O mundo parou e o menino nasceu.
4.as SEIS - Duas tábuas…
1.as SEIS - Era um berço!
2.asSEIS - Tudo escuro…
3.as SEIS - E alumiava
UMA - Estaria Deus lá dentro?
1ª METADE - Estaria Deus lá dentro?
2ª METADE - Estaria Deus lá dentro?
TODAS - Lá estava! Hossana nas alturas.
UMA - Estava dormindo,
UMA - Nas palhinhas despidinho.
TODAS - Os anjos estão cantando
TODAS - Glória a Deus nas alturas.
1ª METADE - O menino está dormindo,
UMA - Nos braços da virgem pura.
TODAS - Os anjos estão cantando.
TODAS - Glória a Deus nas alturas.
2ª METADE - O menino está dormindo,
UMA - Nos braços de S. José
1ª METADE - Os anjos estão cantando.
UMA - E havia, lá na Judeia, um rei,
1ª METADE - Feio bicho, de resto.
UMA - Um cara de burro, sem cabresto.
UMA - E duas grandes tranças.
2ª METADE - A gente olhava para ele, reparava e via
UMA - Que naquela figura havia,
UMA - Olhos de quem não gostava de crianças.
4.as SEIS - E o malvado
1.as SEIS - Mandou matar quantos eram pequenos.
TODAS - Só porque não gostava de crianças.
1ª METADE - Mas os anjos em coro no reino da luz.
2ª METADE - Entoam hossanas a Cristo Jesus
1ª METADE - O nosso Menino,
UMA - Nasceu em Belém.
UMA - Nasce tão somente.
TODAS - Para nos querer bem.
1ª METADE - Adoremos o menino,
2ª METADE - Nascido em tanta pobreza
2.as SEIS - E lhe oferecemos presentes
3.as SEIS - Da nossa pobre riqueza.
UMA - Jesus pequenino não quis ter um berço,
UMA - Numa manjedoura ficou.
TODAS - Hossana lá nas alturas. Adoramos o Menino.
2ª METADE - Ofereçamos-lhe presentes:
TODAS - A nossa manta de pele.
1ª METADE - O nosso gorro de lã.
2ª METADE - A nossa faquinha amolada.
UMA - O nosso chá de hortelã.
1ª METADE - Os anjos cantavam hinos,
UMA - A alegria era tão grande
TODAS - E nós cantamos também:
UMA - Que noite bonita é esta,
UMA - Em que a vida fica mansa.
UMA - Em que tudo vira festa,
UMA - E o mundo inteiro descansa:
TODAS - Chove!
1ª METADE - É dia de Natal.
UMA - Na província neva.
UMA - Lá para o Norte é bem melhor.
UMA - Nos lares aconchegados.
UMA - Um sentimento conserva os sentimentos passados.
TODAS - É dia de Natal!
2ª METADE - E toda a gente está contente,
4.as SEIS - Porque é dia de o ficar.
UMA - Chove no Natal presente.
UMA - Antes isso que nevar.
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - O jornal fala dos pobres,
UMA - Em letras grandes e pretas,
UMA - Traz versos e historietas,
UMA - Desenhos bonitinhos.
1.as SEIS - Traz bodos, bodos, bodos.
2.as SEIS - Hoje é dia de Natal.
3.as SEIS - Mas quando será de todos?
TODAS - Hoje é dia de Natal!
UMA - Natal de quem?
UMA - Dos que trazem às costas as cinzas de milhões.
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de paz nesta guerra de sangue?
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de liberdade num mundo de oprimidos?
TODOS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal duma justiça roubada sempre a todos?
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de ser-se igual mas ser-se esquecido?
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de caridade quando a fome ainda mata?
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de esperança, num mundo de bombas?
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Natal de honestidade num mundo de traição?
1ª METADE - Natal de quê? De quem?
2ª METADE - Daqueles que o não têm.
TODAS - É Natal! É Natal! É Natal.
UMA - Entremos, apressados, friorentos,
UMA - Numa gruta,
UMA - No bojo de um navio,
UMA - Num presépio,
UMA - Num prédio,
UMA - Num presídio
UMA - No prédio que amanhã for demolido
1ª METADE - Entremos e depressa em qualquer sítio.
TODAS - Porque sofremos porque temos frio,
2ª METADE - Entremos e cantemos:
TODAS - “A Todos um bom Natal”.
(Excertos de poemas de alguns poetas portugueses.)
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SONHOS
Os sonhos não são eternos.
Desfazem-se com o esvaziar das marés,
Descolorizam-se com o por do sol,
Escurecem com o negrume das nuvens,
Rompem-se com o silêncio da noite
E,
Por vezes,
Até fenecem,
Com o travo amargo da solidão.
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FONTE VERMELHA
Encravada na rocha,
a abarrotar frescura,
vertendo,
sem cessar
um fio cristalino,
diáfano,
ornado
com o perfume
do poejo
e o sabor
da nêveda.
Encravada na rocha,
a ejacular
em bica
- um tufo negro
fofo e macio
onde os pássaros pousam
sem temor –
a essência doce
das flores selvagens
e dos bosques refrescantes.
Encravada na rocha
à espera
que cada caminhante,
cansado
e sequioso
a demandasse
e nela,
definitivamente,
saciasse a sua sede
Fonte Vermelha!
Um mito perdido no tempo.
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ILHA DAS FLORES
De longe chegou-me mais este poema, sobre a “Ilha das Flores” escrito, segundo me informaram, por uma senhora de nome Lurdes Costa.
Quantos homens e mulheres terão cantado, na solidão do seu silêncio, as maravilhas da ilha das Flores, das suas freguesias, das suas ruas, atalhos, outeiros, montes, grotões e ribeiras…
“Voltei para juntar os meus pedaços,
Aliviar a alma dos cansaços,
Descansar nas tuas penedias
E acordar ao teu Sol, todos os dias.
Voltei, para beber de frescas fontes,
Correr alegremente pelos montes,
Escutar a tua voz, na maresia,
A segredar-me divina poesia.
Voltei…Meu coração, em alvoroço,
Palpita um segredo que é só nosso…
Porque preciso, hoje, saber de ti,
Voltei de novo amor, estou aqui.”
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QUADRA PARA SÃO JOÃO
Eu fui à rusga, sozinho,
Na noite de São João.
Encontrei-te p’lo caminho,
Mataste meu coração.
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MAIS UM POEMA SOBRE A FAJÃ GRANDE
No passado dia 26 de Junho de 2009, coloquei neste blogue mais um poema, sobre a Fajã Grande, recolocando-o neste novo blogue, o qual, na altura, me havia chegado por pessoa amiga que com as melhores intenções. Na introdução dizia que o referido poema havia sido escrito por autor desconhecido. Afinal foi-me garantido, por um outro amigo, que os referidos versos são da autoria do professor Orlando Soares, autor de outros já aqui referidos. Como previra e porque o poema me foi citado de memória, havia algumas incorrecções que agora se corrigem, tendo-se ainda em conta que os referidos versos faziam parte de dois poemas diferentes.
O primeiro intitula-se "FAJÃ GRANDE"
“A Fajã entre verdura,
Vista do cimo da rocha,
Tem tanta graça e frescura
Como a flor que desabrocha...
É tão linda e singular
Daquele sítio sobranceiro,
Que para a verem melhor... O SOL e o LUAR
Sobem a rocha primeiro...
Linda Fajã,
D'excelentes madrugadas,
Onde recitam poesia,
Nas noites calmas douradas.
Linda Fajã,
Ninguém te pode negar
O encanto e a primazia
Que te dão sol e luar...
Só a Fajã nunca viu
O Sol nascer no levante,
Porque a rocha lhe encobriu
O berço do Sol distante.
Não há outra aldeia assim
Nesta Ilha perfumada,
Onde as aldeias são florinhas
E a Fajã rosa encantada...”
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O segundo poema chama-se "PARREIRINHA"
“Desde o Pico à Cabaceira,
Sempre verde a parreirinha
É nota bem prasenteira
E alegra que se avizinha...
Parreirinha,
Fartura da Fajã Grande!
És sempre doce e fresquinha
Por mais quente que o Sol ande...
Parreirinha
Os teus cachos saborosos
Sabem mais que a pura água,
Sabem mais que a pura água
Nos meus lábios sequiosos.”
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POEMA À FAJÃ GRANDE
Há alguns dias foi-me enviado um interessante poema sobre a Fajã Grande. De autor ou autora desconhecido, o poema manuscrito terá sido encontrado algures, numa velha gaveta, numa casa da Fajã Grande e posteriormente terá desaparecido, não se sabendo o seu paradeiro. Por isso foi-me revelado apenas de memória.
Fajã Grande tão linda,
Nascida à beira do mar!
Anseio ver-te ainda,
Teu belo solo pisar.
Aldeia de mil encantos,
Serena luz do luar.
Idílios puros e santos
Só ali se vão achar.
No teu porto e luso cais,
Bem disposto patamar,
Não te esquecerei jamais
E um dia hei-de voltar.
Num sonho esperançoso,
Sigo anos a suspirar
Por ver o torrão saudoso,
Onde costumava brincar.
Quantos anos, ó meu Deus!
Não deixei de te amar!
Bebi os carinhos teus,
Quero viver a sonhar.
A vida corre ligeira
E os anos a acumular,
Numa ambição derradeira
De ainda te poder visitar.