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A LENDA DA BORBOLETA DA ILHA DO PICO

Sexta-feira, 16.06.17

Era uma vez uma borboleta enorme, com asas muito coloridas em forma de coração. Tinha um feitio atrevido, curioso e era muito veloz.

Certo dia, ouviu dizer que dentro da montanha da ilha do Pico, havia um Reino de Fantasia. Decidiu investigar e encontrou uma de 3 passagens para lá entrar Escolheu a primeira, ou seja, a passagem aérea, acessível a partir do cume do Piquinho da imponente montanha. Mas havia ainda havia uma passagem terrestre a partir das Grutas das Torres e uma outra - aquática - situada no Porto da Madalena.

Quando entrou dentro da Montanha, a Borboleta Gigante de imediato se transformou numa bela princesa e, impedida de voar, caiu em cima de algas fofinhas.

Como era muito habilidosa e vaidosa também, decidiu com as algas tricotar um lindo vestido.

Assim vestida, encontrou, algum tempo depois, um belo Príncipe que se apaixonou por ela de imediato. Mas, como era muito tímido, não teve coragem de se declarar pessoalmente, mandando-lhe entregar um bilhete onde perguntava se ela queria casar com ele.

A Princesa Borboleta disse que sim.

Casaram, fizeram uma festa e tiveram cinco filhos: um cagarro, um cachalote, um milhafre, uma vaca e um golfinho - que por sua vez cresceram, fizeram as suas famílias e continuam a viver não apenas na ilha do Pico mas também em todas as outras ilhas dos Açores.

 

NB – Adaptação de um texto popular

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publicado por picodavigia2 às 00:05

SUBLIMIDADE E EXCELÊNCIA

Segunda-feira, 23.01.17

No passado dia oito de Janeiro teve lugar na igreja Matriz da mais antiga vila da ilha do Pico um concerto realizado pelo Grupo Coral das Lajes do Pico, conjuntamente com a Orquestra Académica Juvenil das Lajes do Pico e com a participação especial do grupo Vox Insulae. O evento já havia sido realizado no Santuário do Bom Jesus em São Mateus e na Igreja de Santa Bárbara das Ribeiras.

Na verdade o concelho das Lajes Pico têm-se revelado ultimamente como uma espécie de epicentro duma intensa e profunda atividade musical, como se pode demonstrar não apenas pelos espetáculos ultimamente realizados como também pela agenda cultural da edilidade, recheada, nos últimos anos, de inúmeros e diversíssimos eventos musicais. Atualmente e para além da mais que centenária Filarmónica Liberdade Lajense, do Grupo Coral e de vários outros agrupamentos musicais, a denominada Vila Baleeira, sob o patrocínio da edilidade local, orgulha-se de possuir uma Orquestra Académica Juvenil que teve a sua estreia em 2013, durante a Semana dos Baleeiros. Esta novel agremiação musical, cujos componentes têm uma média de idade de treze anos, tem proporcionado ao público picoense e, de modo muito particular ao lajense, excelentes momentos musicais reveladores do esforço e da dedicação de um bom punhado de jovens músicos e da competência e dedicação do seu maestro.

O público teve assim, na noite do passado dia oito, uma excelente oportunidade de assistir a um espetáculo musical de grande qualidade e de notável brilhantismo. Sob a direção dos maestros Hélder Azevedo, Pedro Santos e Hildeberto Peixoto, o Grupo Coral das Lajes do Pico, a Orquestra Académica Juvenil das Lajes do Pico com a participação especial do grupo Vox Insulae apresentaram um espetáculo musical pautado pela sublimidade e pela excelência, do qual, sobretudo para os apreciadores deste tipo de música, se destacou a Missa Brevis de Jacob de Haan, com 6 movimentos representativos dos cultos quer da Igreja Católica quer da Protestante: Kyrie, Glória, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei.

De realçar ainda, por um lado o apoio da Câmara Municipal das Lajes do Pico a um projeto deste tipo, orgulhando-se a edilidade pelo sucesso obtido e pelo reflexo que terá na formação musical dos jovens músicos e consequente evolução das nossas Filarmónicas, uma vez que muitos destes jovens são membros executantes das várias bandas do concelho e, por outro, constatar que, felizmente, hoje já se entendeu que um edifício com a amplitude e grandiosidade de uma igreja pode ser utilizado para eventos deste e de outro tipo, não se limitando ao uso de uma ou duas horas semanais.

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publicado por picodavigia2 às 00:05

ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO

Segunda-feira, 02.01.17

Hélder Melo, professor e escritor picoense, na sua obra literária O Trevo de Quatro Folhas e Outras Histórias aborda inúmeros aspetos etnográficos, elogia a tradição e manifesta uma devoção incondicional pela sua terra natal. Regressa, por isso, através da memória, aos momentos em que a ilha ainda conservava intactas a simplicidade, a autenticidade e a harmonia do quotidiano rural açoriano. Esses momentos situam-se no tempo da sua infância e juventude, marcado pela admiração por certas figuras, pelo amor à família e amigos, pela valorização das pequenas coisas do quotidiano, pelo sentido religioso, pela inocência e pureza de sentimentos. Ao afirmar, no prefácio e no início de muitas narrativas, a veracidade dos acontecimentos, o escritor assume-se como o verdadeiro protagonista das várias histórias. Estamos, pois, perante textos híbridos, que dificultam uma classificação genológica, provavelmente resultantes da faceta de jornalista do autor, fiel à realidade factual. Todavia, no prefácio, Hélder Melo classifica-os de «pequenos contos, nos quais recordo cenas e ambientes que eu próprio observei na minha infância, e um ou outro acontecimento de épocas passadas que me foram contados por velhos amigos. […] Todos têm um fundo do verdadeiro. Portanto, segundo o autor, são duas as fontes que forneceram a matéria para os seus textos: a experiência pessoal, em contacto com a realidade empírica, e as narrativas orais ouvidas de outrem, agora recontadas através da sua voz. Outro aspeto importante referido nesse para texto é o sentimento dominante: a saudade. De facto, o escritor mantém uma ligação muito forte com o período da infância, pois, apesar de distante no tempo, continua tão vivo ainda como reminiscência. Em praticamente todos os textos, o narrador manifesta uma profunda saudade do passado, como se o presente fosse apenas uma sombra da felicidade de outros tempos. Ao afirmar que as suas narrativas mostram cenas e ambientes, Hélder Melo aponta já para a simplicidade da ação, visto que as histórias não apresentam grande conflitualidade ou profundidade, da mesma forma que as personagens não possuem uma notória densidade psicológica. As histórias são apenas fragmentos de memórias, pequenos episódios marcantes na vida do autor, não apresentando uma grande preocupação na construção de uma intriga com princípio, meio e fim.

Não é nosso objetivo analisar aprofundadamente esta obra, mas apenas lançar um olhar atento e crítico sobre a visão da infância insular configurada nos textos. Antes de mais, a narração oscila entre a primeira e a terceira pessoas. No segundo caso, como as imagens gravadas na memória do narrador se relacionam, principalmente, com as figuras que marcaram o seu passado, essa entidade assume-se como um observador, visto que agora a atenção recai sobre elas. Há indicações do espaço geográfico onde decorre a ação (normalmente, o Pico e o Faial), assim como referências temporais específicas. Em termos gerais, o autor utiliza um discurso que varia entre o poético, o cómico e o irónico. O léxico e a pronúncia regionais estão presentes nas falas de muitas personagens. Além disso, algumas das histórias revelam um pendor moralizante, na medida em que, por vezes, tudo se concentra na tentativa de exercer uma determinada influência sobre o leitor, a quem o narrador se dirige com frequência. A moral vigente nos textos relaciona-se com o enaltecimento do amor pela terra, do amor a Deus e do amor entre os membros da família. Todos estes aspetos ajudam a configurar uma visão idílica da infância.

Deparamo-nos, em alguns momentos, com figuras, situações e sentimentos menos  positivos, que são, no entanto, encarados como próprios do processo de crescimento e atenuados pelas imagens de felicidade. A saudade da infância e a representação desse período como um tempo dourado são aspetos centrais no conto Retalhos da minha infância. Tudo conflui no sentido de mostrar uma visão positiva da infância, desde a beleza da paisagem, os acontecimentos rotineiros da pequena vila, as saudosas figuras, sobretudo a avó e a D. Adelaide, até mesmo as sensações, como o cheiro, o paladar, a visão, a audição e o tato. A história retrata, através de uma linguagem simples e emotiva, o fascínio que a chegada do vapor exerce sobre uma criança, o narrador, e mostra como esse meio de transporte influencia e acelera a vida da população local. A curiosidade, a ingenuidade, a impaciência e o entusiasmo caracterizam o seu modo de encarar a realidade circundante. Quase todo o texto é dominado por esse olhar infantil, e a história é narrada ao ritmo das recordações e duma consciência emocionada, como se o narrador-protagonista estivesse a experienciar as vivências pela primeira vez, tal é o poder de presentificação da memória. Todavia, o final revela a presença do narrador adulto, que, agora situado no presente, termina numa nota nostálgica: Que saudades! Que saudades, meu Deus! Deste modo, a escrita surge como uma forma de compensar a saudade da infância no solo natal.

A ativação da memória pode ser desencadeada de fora para dentro, isto é, pela presença de um determinado objeto ou lugar, no qual o narrador vê as lembranças armazenadas. Assim acontece em A louca, em que as recordações da infância são despoletadas por um elemento do mundo exterior: a secular ermida da Prainha de Cima, digna do pincel romântico de Júlio Dinis». Desta forma, o narrador/personagem recua até uma certa tarde de Outono para reviver figuras aldeãs, que não se me apagaram ainda da memória. Com efeito, a narrativa é composta pela caracterização física e psicológica das figuras que marcaram a infância do narrador, algumas detentoras de elogiosas virtudes, como a beata Srª Maria Rita, bondosa criatura outras portadoras de defeitos, como a Mónica, meio anormal, zarolha e deficiente na fala» e a Louca, uma velhota solitária e silenciosa que apavorava as crianças e o próprio narrador-menino. Vivendo afastada do convívio social, num casebre abandonado e apodrecido, é uma figura demente, peculiar

e assustadora que marcou o quotidiano infantil do narrador. Destaca-se um dia em que o

rapaz viu a estranha personagem, completamente nua, atravessar o pátio: A visão emocionante, do seu olhar espavorido, da face esquálida e pergaminhada, dos cabelos crinisparsos, de um branco sujo, dos seus membros de rã e dos sacos desajeitados dos longos seios, todo aquele conjunto do seu esqueleto coberto por uma pele negra, cor de terra, eis uma imagem insólita que emerge das recordações da minha infância e me transporte à galeria shakespeareana, do Hamlet à criação fantástica das bruxas de Lady Macbeth.

Esta visão grotesca não só provocou espanto e medo no narrador como estimulou a sua imaginação, levando-o a tecer relações entre o mundo empírico e a literatura. Deste modo, o autor termina como começou, com a referência a dois grandes escritores (primeiramente, Júlio Dinis e, agora, Shakespeare), exímios criadores de mundos ficcionais e personagens inolvidáveis.

 

Adaptação do excerto de Mónica Serpa Cabral in O Conto Literário de Temática Açoriana: a Ilha, o Mar e a Emigração

 

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A CAÇA À BALEIA NO PICO

Sábado, 10.09.16

Hoje é dado como certo que a caça à baleia chegou aos Açores através das baleeiras americanas que demandavam o Atlântico, fazendo escala nas ilhas para recrutamento de marinheiros e abastecimento de água e víveres. A cidade americana de New Bedford, no Estado de Massachussets terá sido o berço desta atividade. Na verdade foi de lá que partiram as primeiras escunas que se dedicavam à caça do cachalote no Atlântico Norte.
Só por volta de meados do século XIX terão sido construídas, na muito justamente alcunhada vila baleira do Pico, as Lajes, os primeiros botes baleeiros, pese embora as baleeiras americanas continuassem a fazer aguadas e a recrutar tripulantes entre a população das ilhas, nomeadamente do Pico, Faial e Flores, sendo que a maioria dos embarcados aproveitava para emigrar e procurar melhores condições de vida, nas terras do Tio Sam. Muitos destes emigrantes regressaram à sua ilha, anos mais tarde, colaborando na introdução da caça à baleia.

Cuida-se que terá sido na freguesia de São João, no concelho das Lajes do Pico, que se terá instalado a caça à baleia, na ilha do Pico. Naquela freguesia terão existido nos finais do seculo XIX duas companhias baleeiras equipadas com instalações para a arrecadação das canoas, bem como os apetrechos necessários ao derretimento das baleias. Sabe-se, no entanto, que em agosto de 1893, um violento ciclone destruiu aquelas instalações, pondo fim à atividade baleeira naquela freguesia. Nos anos seguintes foram construídas várias canoas, o que permitiu a extensão a caça à baleia a outras localidades do Pico, nomeadamente às Lajes e Ribeiras. Dados estatísticos revelam que no dealbar do seculo XX já estavam registadas na Delegação Marítima do Pico, situada em São Roque, cerca de trinta canoas baleeiras, 16 das quais sedeadas nas Lajes.

O epicentro da caça da baleia no Pico situa-se na década de quarenta do século passado, altura em que o óleo de baleia, ou cachalote era muito procurado para substituir o petróleo, difícil de obter durante a Segunda Guerra Mundial. O número de oficiais, trancadores baleeiros e até de vigias aumentou de tal maneira que o Pico começou a exportá-los, sazonalmente, para outras ilhas, nomeadamente para as Flores.

A emigração provocada pelo Vulcão dos Capelinhos e a decrescente procura do óleo e a descida de preço dos mesmos, a partir das décadas seguintes e ainda do lançamento da pesca do atum e indústria de conservas com resultados promissores, contribuíram significativamente para o declínio da atividade baleira no Pico e nas outras ilhas e que na década de oitenta, entrou em acentuado declínio.

Assim, em novembro de 1987 foi caçada a última baleia, no porto das Lajes, dando-se também cumprimento aos acordos internacionais celebrados entre as diversas nações europeias. Terminava assim, sem honra nem glória uma atividade marítima e industrial que, durante um século muito contribuiu para o desenvolvimento económico das ilhas.

 

NB – Dados retirados da net.

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O VINHO E O MILHO DO PICO

Quarta-feira, 07.09.16

Segundo o escritor Dias de Melo o fabrico do vinho e o cultivo do milho eram, antigamente, as atividades mais importantes e a que mais se dedicava a população da ilha que o viu nascer, o Pico, no que à terra dizia respeito, porquanto, no mar, pontificava a caça à baleia. Aquele escritor registou, magistralmente e até como que recriou literariamente a azáfama das vindimas num inédito ambiente de alegria e festa, como evidencia nas suas Toadas:

 

«Ó Setembro das vindimas,

Vindimas da uva escura!

Não há, não, em todo Pico

Um mês de maior ventura!

 

Bom Povo da minha aldeia,

Povo da Terra e do Mar,

Deixa os botes, deixa o gado,

Neste mês é só gozar!»

 

Mas não se fica por aqui. Dias de Melo, um dos mais emblemáticos escritores açorianos, ainda recria as vindimas do Pico em Crónicas do Alto da Rocha do Canto da Baía e em Milhas Contadas. Segundo ele a festa das vindimas é o culminar do muito trabalho e sacrifício desde o tratar das videiras até ao fabrico do vinho, pois: «vinha para dar boa uva que faça bom vinho tem de ser plantada no meio de pedra, e na pedra da vinha se deixava muita pele dos dedos» e arranhões das silvas nos braços ao mondá-las e ao arrancar varas que tinha enraizado aqui e além.

Em quase todas as freguesias, sobretudo nas mais afastadas da costa, a festa começa com a mudança para a beira-mar, onde normalmente se situam as vinhas e as adegas, local de veraneio dos que vivem mais para o interior da ilha. Em freguesias como São Caetano, mais próximas do mar, a deslocação para as adegas fazia, geralmente, durante o dia, embora a atividade vinícola se prolongasse muitas vezes pela noite dentro. Uma vez instalados nas adegas e combinados e devidamente calendarizados os dias de vindima de forma a permitir a entreajuda recíproca entre familiares e amigos, mulheres e homens, raparigas e rapazes vão-se pelos 'currais' a colher as uvas para cestos de asa pequenos enfiados no braço e quando cheios a despejarem-nos nos maiores que depois hão-de acarretar até à adega, eles às costas e elas à cabeça, por canadas de trilho tão mau que aos próprios burros daqueles que os têm custa a passar. É por entre risotas e cantigas que novos e velhos se entregam felizes a este cansativo trabalho, não sem que, interrompendo-o ao meio dia, altura em que muitos fossem de arruada banhar-se ao mar, os de baixo, no cais, já com fatos de banho, e os de cima ainda vestidos à antiga, nos poceirões. Pela tarde, depois de escolhidas as uvas, tarefa em que a miudagem também colaborava, chega o momento de as pisar. Fazem-no os adultos à mão em selhas apropriadas enquanto no lagar os mais novos se deliciam a moê-las de pés descalços e calças arregaçadas em grande folia. A ceia era normalmente comida na rua à luz duma petromax após o que velhos e novos, mais os novos que os velhos, se juntavam num largo central «a prolongar o serão nas voltas das chamarritas bailhadas ao com­passo e ao ritmo da viola, da melodia da rabeca nas mãos dos tocadores, e das cantigas que, em despique, os cantadores cantavam.» A festa haveria de prolongar-se até que, cansados, os bailadores resolvessem recolher-se para dormir num canto qualquer da adega, ao som da linda música que o pingar do mosto fazia ao cair na selha.

Para Dias de Melo o milho era a base da alimentação. A farinha de milho sob a forma de bolo ou de pão tanto era cozinhada no tijolo como no forno. Cultivado em terrenos contíguos à casa ou mais longínquos, a apanha constituía, depois das vindimas, novo momento importante de partilha, um dia nos cerrados deste outro nos daquele. A faina começava de manhã cedo, já com os frios do Outono adiantado. Por volta do meio-dia, muitos de cesto às costas ou à cabeça, acarretavam-no para a atafona ou para a loja ou iam-se enchendo os carros de bois que, pela tarde, a chiar, o haveriam de trazer para casa. Seguiam-se os serões da descasca. Juntavam-se os vizinhos e dividiam-se tarefas, uns a abrir e a esgaçar a casca «com a ponta da navalha, ou com um fincão de faia bem aguçado», outros a quebrarem-na atirando as maçarocas e as folhas para os respectivos montes. Quando aparecia uma maçaroca de milho vermelho ou apenas rajada, havia festa de beijos e abraços numa risada que os mais novos prolongavam indefinidamente. Às vezes, brindavam com figos passados do Algarve a acompanhar uns copinhos de aguardente e ouviam-se histórias contadas ou lidas por um dos mais velhos. Acabada a descasca, o milho em maçaroca ia a secar no forno. Aquecia-se (também se aproveitava o calor que ainda tinha após a cozedura do pão) e lá ficava de um dia para o outro. O número de vezes que era preciso aquecer o forno dependia da abastança da colheita. Uma vez seco, retirava-se do forno e despejava-se numa esteira para ser debulhado à mão por homens e mulheres. Sentados à roda, «iam arrancando dos sabugos, com sabugos debulhados, melhor com debulhadeiras de bucho ou osso de baleia com dentes de ferro, a maçaroca na mão esquerda, a debulhadeira na direita, assim iam arrancando dos sabugos os grãos, e os grãos caíam, ao lado de cada homem, no regaço da saia de cada mulher, crescia o caculo de milho debulhado». Era depois arrecadado em latões, arcas, arquibancos. A escassez de milho em ano de seca levou a que se importasse dos Estados Unidos. Dias de Melo regista o facto várias vezes.

 

NB – Alguns dados e as transcrições foram retirados da net.

 

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UM POUCO DE HISTÓRIA E ECONOMIA DA ILHA DO PICO

Sábado, 16.07.16

Durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), entre absolutistas e miguelistas a ilha do Pico foi ocupada sem resistência pelos liberais.

Isto refletiu-se na economia da ilha, mais agravada ainda em meados do século XIX, altura em que a produção de vinho entrou, denodadamente, em crise devido o ataque do Oídio (1852) uma verdadeira e desastrosa praga, que, oriundo dos Estados Unidos, chegou à Europa, alastrando-se por vários países, incluindo Portugal e chegando em força à ilha do Pico. Demorou a recuperação dos vinhedos, fazendo-se sobretudo à base de plantação de novos bacelos. No entanto a crise da vinha provocou, em alternativa, o desenvolvimento do cultivo de frutos como as laranjas, ameixas maçãs, pêssegos e figos, sendo estes também utilizados na produção de aguardente. A produção de fruta amentou sensivelmente na ilha Montanha, atingindo níveis de produção tão altos que permitiram a exportação da mesma, em larga escala, mas apenas a nível regional, sobretudo para a vizinha ilha do Faial. Desta forma, tornou-se um hábito diário a deslocação de picoenses para o Faial com o objetivo de proceder à venda da fruta, costume que se manteve até meados do século passado, altura em que ainda existia uma lancha que fazia a ligação entre as duas ilhas, denominada lancha da fruta.

Por esta altura também atingia o seu píncaro a pesca ou caça a baleia, transformando o Picoa e mais concretamente a vila das Lajes, no principal centro baleeiro dos Açores, durante o período áureo da caça ao cachalote. Realce para a grande qualidade e excelente qualidade dos baleiros picoenses, muitos deles emigrados sazonalmente para outras ilhas, nomeadamente para as Flores. Após o declínio desta atividade que resultou da cessação da caça, no último quartel do século XX, o Pico e os seus homens, sempre voltados para o mar, sem nunca desistir dele, lançaram-se na pesca do atum e na indústria de conservas, e, mais recentemente, na observação de cetáceos, transformada em notável atividade turística,

Em Julho de 2004, a UNESCO considerou a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico como Património da Humanidade. A área assim classificada engloba os lajidos das freguesias da Criação Velha e de Santa Luzia. Por sua vez o Parque Natural da ilha do Pico, engloba a área da Montanha do Pico e o Planalto Central assim como outras zonas de proteção especial. Recentemente realizou-se no Pico a maior feira agro pecuária dos Açores.

A paisagem vulcânica da ilha do Pico foi considerada uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal.

Recorde-se que a cultura da vinha está associada aos primeiros tempos do povoamento, nos finais do século XV. Sobre isto alguém escreveu: O vinho verdelho, a partir da casta do mesmo nome, ganhou reputação mundial ao longo dos séculos, chegando à mesa dos czares russos. A partir do século XIX são introduzidas novas castas que dão origem a vinhos de mesa brancos e tintos. O modo de cultivo, contra a aspereza dos terrenos vulcânicos quase sem terra vegetal, em currais, que são áreas muradas de pedra negra, de muito pequena dimensão, marca igualmente a cultura da Ilha do Pico.

 

NB – Este texto contém alguns dados retirados da Net.

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DE ILHA DE SÃO DINIS A ILHA DO VINHO

Quarta-feira, 06.07.16

Hoje sabe-se que, de acordo com documentos históricos, nomeadamente pelo testamento do Infante Dom Henrique, que a ilha do Pico, na época dos Descobrimentos Portugueses era designada por ilha de São Dinis. Estranhamente, algum tempo depois, nalguns outros documentos, nomeadamente na cartografia do século XIV, é denominada por ilha dos Pombos.

Acerca do seu primeiro povoador, que terá demandado a baía das Lajes por volta de 1460, Frei Diogo das Chagas refere o seguinte: "O primeiro homem que se pratica por certo haver entrado nesta Ilha para a povoar foi um Fernando Álvares Evangelho, o qual vindo a buscar a tomou pela parte do Sul, (…) saltou em terra onde se diz o penedo negro, e com ele um cão que trazia, e o mar se levantou de modo que não deu lugar a ninguém mais saltar em terra, e aquela noite se levantou vento, de modo a que a caravela no outro dia não apareceu, e ele ficou na Ilha com seu companheiro, o cão; e nele esteve um ano sustentando-se da carne dos porcos, e outros gados bravos, que com o cão tomava (pois o Infante quando as descobriu, em todas mandou deitar gados, havia nelas, quando depois se povoaram, muita multiplicação deles" Cf. Chagas, Frei Diogo. Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores.

Por sua vez Frei Agostinho de Monte Alverne, sugerindo que o povoamento primitivo se fez pela zona da Madalena e São Mateus, com colonos vindos do Faial, acrescenta e esclarece "Outros dizem que os primeiros povoadores foram os que mandou Job Dutra, da ilha do Faial, porque estando à sua janela, vendo esta ilha do Pico pela parte sul, mandou um barco de gente para a povoar por esta parte, onde hoje é a freguesia de São Mateus. E é esta ilha tão fragosa, que, povoando-a estes por esta parte e os outros pela outra, dois anos estiveram sem saberem uns dos outros, nos quais o capitão Job Dutra mandou pedir a capitania e a alcançou, e uns e outros povoadores se avistaram e festejaram muito." Cf. Frei Agostinho de Monte Alverne. Crónicas da Província de São João Evangelista.

No que ao seu governo diz respeito, em 1482, a ilha do Pico foi integrada na Capitania do Faial pela Infanta D. Beatriz, em virtude de Álvaro de Ornelas, seu primeiro capitão do donatário não ter tomado posse efetiva da ilha.

Em 1501, Lajes do Pico foi elevada a Vila e sede de concelho por el-rei Manuel. Por sua vez, São Roque do Pico tornou-se vila em 1542. A Madalena é a mais nova vila picoense apenas adquirindo esse estatuto em 1712.

Além da agricultura (trigo, pastel), da pecuária e da pesca, a economia do Pico, desde o início do povoamento, foi marcada pelo cultivo da vinha e a produção de vinho. Sobre elas, o Padre António Cordeiro escreveu: "O maior fruto, e mais célebre desta Ilha do Pico é o seu muito e excelente vinho, e quantas mil pipas dê cada ano (…) as outras ilhas, as armadas, e frotas, os estrangeiros o vão buscar, e o muito que vai para o Brasil, e também vem para Portugal; a razão deu-a já o antigo Frutuoso Liv. 6 cap. 41, dizendo que o vinho do Pico não só é muito, mas justamente o melhor, (…), porque é tão generoso e forte, que em nada cede ao que na Madeira chamam Malvazia; antes parece que este vence aquele, porque da Malvazia, pouca quantidade basta para alienar um homem do seu juízo, não se acomoda tanto à saúde; porém o vinho passado do Pico, emprega-se mais em gastar os maus humores, confortar o estômago, alegrar o coração, e avivar, e não fazer perder o juízo, e uso da razão, além de ser suavíssimo no gosto, e muito 'confortativo', ainda só com o cheiro; e por isso é muito estimado…" Cf. Pe. António Cordeiro. História Insulana das ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

A cultura da vinha na ilha do Pico foi apurada, ao longo dos séculos, com o auxílio, primeiro, dos frades Franciscanos e, mais tarde, dos Dominicanos. Por sua vez os Jesuítas, nos séculos XVII e XVIII também tiveram uma notável ação na cultura da vinha e no fabrico do vinho na mais jovem ilha açoriana, transformando-a e dando-lhe o estatuto de verdadeira ilha do vinho.

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SENTIR O PICO

Domingo, 19.06.16

Decorreu, de 10 a 12 de junho do corrente, o II Festival Sentir o Pico, no lugar do Lajido, na freguesia de Santa Luzia, tendo como principal objetivo a divulgação dos produtos locais, entre eles o vinho cuja uva é produzida nos extensos campos de lava que marcam a paisagem da ilha montanha e que a população local denomina de lajidos ou terras de biscoito consoante são planos ou escarpados. Muita da vinha também é cultivada nos célebres currais. Ao lado os maroiços entrincheirados nos terrenos agrícolas, os muros de caminhos, as veredas e até as divisórias dos terrenos, todos feitos de lava ainda bem viva e que dão à ilha uma tonalidade cinzenta entremeada com o verde da vegetação. Plantada neste cenário a majestosa montanha, rasgando o azul do céu, umas vezss límpida e clara outras envolvidas por eloquentes mantos de nuvens, por vezes, encantadores, mágicos e deslumbrantes. Ao lado da montanha  caminhando para leste o resto da ilha como que a espreguiçar-se numa longa cordilheira vulcânica, de exuberantes manchas de vegetação endémica e verdejantes pastagens, encharcadas de pequenos montes sob a forma de vulcões fosseis e de pequenos vales muitos deles transformados em belas lagoas. Plantas endémicas e aves residentes e exóticas migradoras povoam todo este paraíso e dão-lhe vida.

Vista de longe a montanha é uma sombra, um segredo, um enigma mas contemplada de peto manifesta-se imponente, majestoso, magnífico, atraente, acolhedora e bela. O cone vulcânico que a ilha alberga é o terceiro maior vulcão do Atlântico e impõe-se na paisagem da ilha, exercendo uma atração irresistível sobretudo para quem, viajando de avião, o avista lá do alto na sua negritude emblemática. Na cratera principal aloja-se um cone de lava designado de Piquinho, no topo do qual fumarolas permanentes encarregam-se de lembrar a sua natureza vulcânica. A cerca de 1250 metros de altitude, onde está a Casa da Montanha e onde se inicia escalada pedestre, o olhar já abarca grande parte da ilha, bem como as vizinhas Faial e São Jorge. A subida até ao topo é servida de elevadas doses de cansaço, e de satisfação: pelo feito extraordinário e por panorâmicas fantásticas e únicas. Em dia límpido, tem-se como prémio adicional o vislumbre das ilhas Graciosa e Terceira.

A parte oriental da ilha também tem a sua beleza porquanto alberga turfeiras, charcos ou lagoas, como as do Grotões, Rosada, Paul, Landroal, Caiado, Peixinho e Negra. Esta área constitui um dos locais mais importantes dos Açores em termos de vegetação endémica, com espécies como cedro-do-mato, queiró, sanguinho ou trovisco em extensas e densas manchas.

Mas, são os campos de lava basáltica a imagem de marca da ilha, repositório de inúmeros e diversificados vestígios da atividade vulcânica que a fez nascer. Nalguns casos estes campos de lava estão associados a erupções testemunhadas pelas populações, que, temerosas, designaram de mistérios tais terrenos rochosos e incultos nascidos do fogo dos vulcões, hoje cobertos de faias, incensos e cana roca. O cinzento do basalto, o azul cristalino do mar e o branco leitoso da espuma da rebentação marcam a trilogia colorida do litoral da ilha do Pico. Sem praias, mas com encantadoras baías e enseadas, a ilha oferece várias zonas balneares, frequentemente aproveitando o recorte da costa para proporcionar um cenário natural único. Em contrapartida, altas arribas marcam certos troços da orla costeira do Pico, como Miradouro da Terra Alta, p Alto dos Cedros ou até o Promontório dos Coxos. Noutras zonas podem observar-se grutas litorais e bancadas de rocha negra e dura, a que se seguem os terrenos de vinha com as suas típicas adegas que para além de armazéns de fabrico e guarda do vinho são locais de romarias permanentes e contínuas nas tardes de domingos e feriados, ou de visitas diárias, à noitinha, em dias de semana e de trabalho, umas e outras, prolongadas, estendidas e ramificadas, vezes sem conta, pela noite dentro, por vezes, até pela madrugada.

Se a tudo isto juntarmos a riqueza culinária e a simpatia das suas gentes vale a pena ir ao Pico e, sobretudo, Sentir o Pico.

NB - Alguns dos dados deste texto foram retirados da net.

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A FESTA DO ESPÍRITO SANTO NO DOMINGO DA TRINDADE NA SILVEIRA E A LENDA DO PÃO ESCARPIADO DA ALMAGREIRA

Segunda-feira, 06.06.16

A festa em louvor do Divino Espírito Santo, na Silveira, no Domingo da Trindade, senão a mais importante é, incontestavelmente, uma das mais emblemáticas das inúmeras celebrações em honra do Paráclito que se realizam por toda a ilha do Pico, desde o sábado que antecede a festa de Pentecostes até o domingo da Trindade. Esta festa, assim como todas as outras que se celebram ao redor da ilha Montanha, por estas alturas, têm concretizado, através dos séculos e ininterruptamente, os votos ao Paráclito, realizados pelas populações ancestrais a quando de erupções vulcânicas que proliferaram, outrora, por toda a ilha. Estas celebrações, únicas, seculares e diversificadas, expressam-se, sobretudo, na partilha da carne, do pão e do vinho. Na Silveira, na festa da Trindade, porém, esta partilha não se estende apenas aos moradores da localidade e aos convidados mas alarga-se, também, a todos quantos visitam a localidade nesse dia. A mesa recheada de carne, de sopas, de vinho, de massa sovada e de arroz doce está posta para todos, durante toda a tarde. Talvez por isso a festa da Trindade, na Silveira, sobretudo devido à sua imponente singeleza e à sua genuína transcendentalidade, tornou-se, desde os tempos mais remotos, numa celebração que atraía inúmeros romeiros oriundo de muitas outras localidades, sobretudo do sul da ilha.  

Este ano a festa realizou-se no passado dia 22 de Maio, sendo, no entanto, fustigada por abundantes aguaceiros. Mas o povo e o mordomo não se coibiram, ativando uma espécie de plano B. O convívio e o arraial aquartelaram-se no enorme salão do Centro Social onde as mesas permaneceram recheadas, durante toda a tarde, à espera de quantos ali aportavam. Em alegre convívio e sã camaradagem, acompanhado dos acordes da Filarmónica Liberdade Lajense, sob a hábil e intrépida batuta da maestrina Catarina Paixão, o povo da Silveira recebia os visitantes com alegria e simplicidade convidando-os a sentarem-se à mesa, a partilharem os seus abundantes e saborosos manjares. Entre as vitualhas apresentadas, destacavam-se saborosas fatias do célebre pão escarpeado talvez porque o aspeto rugoso da sua côdea superior faça lembrar as escarpas da Montanha ou escarpiado quiçá por influência de um pão semelhante, existente noutras regiões do país. Trata-se de um pão feito com farinha de milho, ovos, açúcar e chá de canela e que demora cerca de 24 horas a levedar. Típico desta localidade, a sua origem, segundo me contou o senhor Manuel Fernandes, prende-se a uma interessante lenda ou estória. Durante a 1ª Guerra Mundial rareava a farinha de trigo, na ilha do Pico. Uma velhinha da Almagreira não a tinha e, no entanto, fizera a promessa de oferecer um açafate de pão em louvor do Senhor Espírito Santo, no dia da festa da Trindade. Aflita e muito triste porque totalmente impedida de cumprir a sua promessa mas com uma vontade gigantesca de a realizar, a boa velhinha recorreu à farinha de milho, a única que possuía. Amassou o pão juntando-lhe os ingredientes habituais e esperou que levedasse. Assim aconteceu e, no dia seguinte, pode cozê-lo e oferecer o seu açafate em honra do Divino, deixando para as gerações vindouros o testemunho da sua enorme fé, personificada no pão que hoje é uma espécie de ex-libris da festa da Trindade na Silveira do Pico.

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publicado por picodavigia2 às 00:05

SEMPRE PICO

Terça-feira, 17.05.16

Embora seja lugar-comum é imperioso recordar e repetir que o Pico é a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores. Vizinha do Faial e muito próxima de São Jorge, o Pico tem uma superfície de 447 km², tendo o perímetro da sua orla costeira 151,84 km e, curiosamente é ladeada por 31 ilhéus, embora alguns deles sejam minúsculos outros gigantescos como o Deitado e o Em Pé, em frente a vila da Madalena. Mede 42 km de comprimento por 20 km de largura e a sua população é de cerca de 14,500 habitantes distribuídos por três concelhos e 7 freguesias.

Faz jus ao nome devido à sua majestosa montanha vulcânica, que culmina num pico pronunciado, o Pico Pequeno ou Piquinho. Trata-se da mais alta montanha de Portugal e a terceira maior montanha que emerge do Atlântico, atingindo 2 351 metros acima do nível do mar.

Administrativamente, a ilha é constituída por três concelhos: Lajes do Pico e Madalena, ambos com seis freguesias, e São Roque do Pico, com cinco freguesias. Pertencem ao concelho da Madalena as freguesias de Madalena, Bandeiras, Criação Velha, Candelária, São Mateus e São Caetano. Por sua vez o concelho das Lajes, a povoação e a vila mais antiga da ilha, é constituído pelas freguesias de Lajes, São João, Ribeiras, Calheta, Piedade e Ribeirinha, Finalmente as freguesias de São Roque, Santa Luzia, Santo António, Prainha do Norte e Santo Amaro constituem o concelho de São Roque. Religiosamente o Pico que forma uma única Ouvidoria possui dezanove paróquias, uma vez que o lugar da Silveira, pertencente às Lajes é paróquia, sendo a freguesia das Ribeiras constituída por duas paróquias: Santa Bárbara e Santa Cruz das Ribeiras.

Atualmente o Pico dispõe, entre as freguesias de Santa Luzia e Bandeiras, de um moderno aeroporto regional com ligações aéreas diretas com Lisboa, Terceira e Ponta Delgada. Possui um porto Comercial em São Roque e um de passageiros na Madalena, tendo ligações marítimas diárias com a cidade da Horta e as vilas das Velas. Durante os meses de verão.

Há quem considere o Pico a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ele lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atração. É mais do que uma ilha, segundo Raul Brandão é uma estátua erguida até ao céu e amolgada pelo fogo - é outro Adamastor como o do cabo das Tormentas.

Em termos de património cultural destacam-se, na Madalena, o Museu do Vinho, instalado em um antigo Convento das Carmelitas, o Museu da Indústria Baleeira, em São Roque do Pico, e o Museu Regional dos Baleeiros, nas Lajes do Pico. Destacam-se ainda o Forte de Santa Catarina, nas Lajes, assim como as igrejas, os conventos e os moinhos espalhados pela ilha. São tradicionais na ilha a festa e procissão do Senhor Bom Jesus, em São Mateus, as comemorações da Semana dos Baleeiros e a festa Nossa Senhora de Lurdes, nas Lajes, o Cais Agosto e a festa de São Roque, as festas de Santa Maria Madalena, a Semana das Vindimas, e as Festas do Espírito Santo.

A população dedica-se principalmente à agricultura, à pesca e à pecuária, esta última muito desenvolvida, em especial no concelho de São Roque do Pico. A vinha, outrora uma das grandes riquezas da ilha, sendo o vinho do Pico exportado para a Inglaterra e para a América do Norte, e que chegou a ser servido à mesa do próprio czar do Império Russo, foi gradualmente afetada pela praga do oídio na segunda metade do século XIX, perdendo importância. No entanto, a cultura da vinha ainda domina a parte ocidental da ilha, sendo a vinha Verdelho do Pico cultivada em pequenas quadrículas de terreno separados por muros de pedra solta de basalto, chamados localmente de currais. A sua extensão é tal que dariam cerca de duas voltas ao equador terrestre e a sua importância é tão grande que contribuíram para a classificação vinha do Pico como património da humanidade.

As indústrias da ilha estão, na sua quase totalidade, ligadas ao ramo alimentar: lacticínios, pesca, com a maior fábrica de conservas de atum do arquipélago dos açores, destilarias e moagens. No artesanato destaca-se a escultura em basalto e em osso de baleia, bem como rendas e bordados.

Notável e muito rica e variada é a gastronomia da ilha, nomeadamente no que toca aos produtos do mar. Os crustáceos como a lagosta, o cavaco e o caranguejo, os moluscos, como as lapas e as cracas, as lulas e os polvos servem de base a pratos variados e ricos. Entre os peixes destacam-se espécies como a abrótea, o chicharro, a moreia, a salema, o cherne, a garoupa, o espadarte e a veja que depois de escalada e seca se é designada como o bacalhau açoriano. Entre os vários pratos destaca-se o tradicional caldo de peixe. Por sua vez as carnes de bovino e suíno encontram-se presentes em pratos da culinária regional como molha de carne à moda do Pico, torresmos, linguiças e morcelas. Com a carne de vaca são feitas as celebérrimas sopas do Espírito Santo. Em termos de laticínios destacam-se os queijos de São João e do Arrife, ambos produzidos a partir do leite de vaca. São consumidos com vinho verdelho, vinho de cheiro ou outros produzidos localmente e pão de massa sovada. Em termos de doces destacam-se os pratos de arroz doce, massa sovada e rosquilhas. Em termos de digestivos destacam-se o bagaço do Pico, a aguardente de figo ou um dos vários licores a partir de amora, nêspera ou de uma angelica.

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VINTE COISAS QUE DEVE FAZER AO VISITAR A ILHA DO PICO

Domingo, 13.03.16

O Pico, a mais alta e mais jovem ilha açoriana, conhecida como a Ilha Montanha, devido à imponência da sua serrania, sendo, também, o ponto mais alto de Portugal, disponibiliza aos seus visitantes e a quantos o demandam não apenas paisagens de uma beleza rara e inconfundível como também lugares deslumbrantes e sabores únicos e míticos dos quais não se deve abster. Este é o sítio primordial e perfeito para quem deseja escapar durante algum tempo às cansativas exigências da civilização e aproximar-se da natureza pura, bela, original e viva. Vale a pena visitar o Pico e não esquecer de, entre muitas outras atividades, realizar as seguintes. Seria imperdoável não o fazer.

  1. Tomar um banho pelo menos numa das diversíssimas piscinas naturais que ladeiam a ilha, desde a Madalena à Piedade e da Ribeirinha às Bandeiras.
  2. Subir a Montanha, preferencialmente numa noite de luar, pernoitar na cratera até de madrugada. Depois escalar o “piquinho” e ver nascer o Sol lá do alto, observando as restantes quatro ilhas do grupo central: Faial, S. Jorge, Graciosa e Terceira.
  3. Numa tarde solarenga ir tomar um café à Casa da Montanha e deliciar-se com a bela paisagem que dali se desfruta sobre a Madalena, com o Faial ao fundo.
  4. Num final de tarde, dirigir-se à Manhenha, na Ponta da Ilha, e assistir ao pôr-do-sol. No regresso visitar o Farol.
  5. Visitar o miradouro do Alto dos Cedros, na Ribeirinha, uma espécie de parente pobre e vizinho de um outro mais conhecido, o Miradouro da Terra Alta mas que não lhe fica arás em beleza, imponência e grandiosidade.
  6. Depois de uma íngreme subida pelo antigo trilho dos pastores, na freguesia de São Caetano, contemplar a paisagem abrangente desde o Mistério de São João até o Guindaste.
  7. Dar um passeio, na orla marítima, desde o Porto de São Caetano até ao Farol de São Mateus, saboreando a suavidade e o perfume da brisa marítima e enfartar.se com o verde dos vinhedos e dos matagais, sob a proteção da Montanha.
  8. Saborear as originais e deliciosas Tortas de Erva Patinha, no restaurante O Petisca, no lugar da Areia Larga, na Vila da Madalena. Aqui ainda se podem degustar outros excelentes petiscos como filetes de abrótea, iscas de atum, as lapas, favas guisadas etc.
  9. Visitar as Grutas das Torres, na Criação Velha. Trata-se de um Monumento Natural Regional constituído por uma gruta de origem vulcânica de grande dimensão, descoberta em 1990, sendo o maior tubo lávico conhecido em Portugal. A Gruta terá sido originada pela lava expelida por uma erupção vulcânica no Cabeço Bravo, podendo-se observar no seu interior curiosas estruturas geológicas tais como estalactites, estalagmites lávicas, bancadas laterais e bolas de lava. A visita à Gruta é sempre precedida de registo e de um briefing sendo obrigatoriamente acompanhada por guias.
  10. Fazer uma pausa numa tasca ou numa adega para tomar uma angelica ou uma aguardente de nêveda, medronho, amora, funcho e de muitos outros sabores
  11. Visitar o Santuário do Senhor Bom Jesus em São Mateus e, se estiver no Pico no início de Agosto assistir à segunda maior festa religiosa açoriana.
  12. Descobrir o folclore e a música assistindo e se possível participando nos tradicionais bailos de Chamarrita.
  13. Realizar uma viagem ao Faial, atravessando o canal num dos cruzeiros que diariamente unem as duas ilhas.
  14. Visitar as Lajes, a mais antiga vila da ilha e o primeiro lugar a ser povoado, onde se encontra a ermida de São Pedro, o primeiro templo edificado na ilha. Para quem gosta de aventuras marítimas poderá realizar uma viagem de observação de cetáceos
  15. São Roque, localizado na costa norte, não pode ser esquecido, na sua riqueza histórica, paisagística e como porto comercial.
  16. Realizar um périplo pelo interior da ilha observando a simplicidade das várias lagoas.
  17. Por toda a ilha podem ser realizados trilhos pedestres, que permitem desfrutar, ao longo do seu percurso, de belas paisagens e de um contacto direto com a natureza
  18. Percorrer as freguesias por altura dos festejos do Espírito Santo, receber, gratuitamente, rosquilhas ou vésperas e saborear as deliciosas sopas.
  19. Visitar o Museu dos Baleeiros nas Lajes e o do Vinho, na Madalena.
  20. Se for para tal convidado, recolher-se, ao serão, na adega tradicional do senhor José Rodrigues, em São Caetano, um verdadeiro Refúgio e saborear os deliciosos manjares confecionados pela sua esposa a Dona Luísa e pelas filhas. Simplesmente divinal!

 

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CHEGAR AO PICO EM FEVEREIRO

Sábado, 20.02.16

Chegar ao Pico em fevereiro e ter, à espera, a montanha descoberta, deslumbrante idílica, aureolada na sua pureza original é um dom sublime, uma dádiva transcendente. Chegar ao Pico em fevereiro é envolver-se com o perfume que se solta da bruma escoada em catadupa pela montanha, atirar-se abruptamente sobre pedaços de lava, purificar-se com os respingos da maresia, emaranhar-se nos resquícios dos vulcões. Chegar ao Pico em fevereiro é amenizar-se com a frescura das brisas matinais, adornar-se com o verde amachucado dos vinhedos, aspergir-se com os salpicos das ondas desfeitas e cerceadas pelos rochedos negros dos baixios. Chegar ao Pico em fevereiro é ter a agradável sensação de abraçar a natureza pura e original, ter à sua espera o sussurrar das fontes secas, o suco adormecido das ribeiras silenciosas e vazias, o vicejar dos feijoais, o sombreado dos laranjais ainda imberbes.

Na verdade, o Pico, em fevereiro, acolhe-nos transcendentalmente, em eflúvios de sublimidade, pureza e libertação. Pese embora, de vez em quando, assolado por ventos e tempestades, fustigado por chuvas e intempéries ou assediado por nevoeiros neblinas, permanece detentor duma beleza e duma originalidade ímpares, duma graça e singeleza endémicas, e de uma excêntrica e indomável singularidade. A sua imponente e vulcânica Montanha, erguendo-se altiva e altaneira sobre lavas e fumarolas, ora se esconde bem lá no alto, por cima das nuvens, ora se cobre da caramelo ou se reveste da sua mais enigmática singularidade – de neve. O mar, que a rodeia, na sua altivez e transcendência, revolta-se indignado e altivo, rugindo contra os baixios magmáticos e a terra, entrelaçada entre maroiços e estreitas canadas, ostenta-se ávida de enxadas e aluviões. As vinhas desvanecem mas não morrem e aguardam, expectantes, a tesoura de poda. No Pico, em fevereiro a escuridão vai-se desvanecendo muito lentamente, à espera do sol. Mas o Pico em fevereiro, com sol ou com neve, com neblinas ou mar agitado, com isto ou com aquilo, ainda se mata o porco, ainda se amarram as vacas nos campos, ainda se podam as vinhas, ainda se apanham sargos e chicharros, ainda se coze bolo no tijolo, ainda se faz caldo de peixe, ainda se bebe bagaço com néveda, ainda se conservam os maroiços, ainda se arrastam os barcos nos varadouros, ainda se baila a chamarrita.

Depois vem São Caetano, a freguesia mais próxima da montanha, alojada e aninhada no regaço de uma grande baía, instalada entre o mar e a encosta, sulcada por ravinas ou quebradas, demarcada por diversas elevações ou cabeços, atravessada por várias ribeiras, pelo que possui uma beleza natural muito específica, uma singularidade inaudita que o poeta estampou desta forma:

Este é o sitio, onde se pode ler,

O livro inicial para sempre perdido.

Em São Caetano, o mar é o próprio ser

E o seu mistério, o único sentido”.

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ILHA DO PICO

Quarta-feira, 03.02.16

Com uma superfície de cerca de 447 quilómetros quadrados, o Pico é a segunda maior ilha açoriana, depois de S. Miguel. O Pico, também designado por Ilha Montanha está distanciado do Faial por pouco mais de oito quilómetros e de São Jorge por cerca de quinze. Segundo o Censos de 2011 a população residente na mais alta ilha açoriana é de catorze mil e oitocentos habitantes. O Pico mede quarenta e dois quilómetros de comprimento e vinte de largura. Deve o seu nome à majestosa montanha vulcânica, a Montanha do Pico, que termina num pico chamado Pico Pequeno ou Piquinho. É a mais alta montanha de Portugal e a terceira maior montanha que emerge do Oceano Atlântico, atingindo 2.351 metros de altitude.

Administrativamente, a ilha é constituída por três municípios: Lajes do Pico e da Madalena, ambos com seis freguesias, e São Roque do Pico, com cinco freguesias.

Atualmente o Pico dispõe de um moderno aeroporto regional com ligações aéreas diretas com Lisboa e os aeroporto das Lajes na Terceira e de Ponta Delgada em São Miguel, dispondo ainda de duas ligações semanais com Lisboa. Por via marítima a ilha do Pico tem ligações marítimas diárias, operadas pela Transmaçor, com a cidade da Horta, no Faial e com a vila das Velas, na ilha de São Jorge. Durante os meses de Verão, a ilha usufrui de ligações marítimas regulares com as restantes ilhas do arquipélago operadas pela Açorline.

Geologicamente, dizem os compêndios que a ilha emergiu de uma fratura tectónica de orientação ONO-ESSE, precisamente a mesma que deu origem à ilha do Faial, denominada Fratura Faial-Pico, sendo formada por três regiões distintas: Complexo Vulcânico do Topo, Complexo Vulcânico de São Roque e Complexo Vulcânico da Montanha do Pico

Historicamente a ilha do Pico integrava o conjunto de três ilhas designadas por Ilha da Ventura e dos Pombos. Na Carta Catalã de 1375, a ilha aparece individualizada simplesmente como Ilha dos Pombos. Em 1460, a sua designação henriquina era Ilha de São Dinis. Em 28 de Dezembro de 1482, o flamengo Josh van Hurter, Capitão-do-donatário da Ilha do Faial, obtêm da Infanta D. Beatriz a Capitania da Ilha do Pico, em virtude de Álvaro de Ornelas não ter tomado posse da ilha. No ano seguinte, em 1483, ao longo da sua costa sul tem início do povoamento da ilha. Lajes do Pico, pequeno porto e recifes e lajedos dispersos fundado numa fajã lávica, foi elevada a vila em 1501. São Roque do Pico, na costa norte da ilha, foi elevada a vila em 10 de Novembro de 1542. Madalena, fonteira à Ilha do Faial, foi elevada a vila a 8 de Março de 1723.

Em termos de património histórico, arquitetónico e natural, na Madalena, há a destacar a Igreja Santa Maria da Madalena, o mais importante templo da ilha; o Museu do Vinho, instalado no antigo Convento das Carmelitas; a Gruta das Torres, na Criação Velha; Museu Etnográfico da Criação Velha; a Furnas de Frei Matias; Mistério da Santa Luzia. Em São Roque do Pico destacam-se as Furnas de Santo António; Mistério da Prainha e Museu da Indústria Baleeira. Por sua vez nas Lajes do Pico, a vila mais antiga e onde se crê que se terá iniciado o povoamento, o Museu dos Baleeiros; Museu dos Cachalotes e Lulas, em São João; Museu Marítimo de Construção Naval, em Santo Amaro, Escola de Artesanato de Santo Amaro, Mistério de São João; Mistério da Silveira.

A Reserva Natural da Montanha do Pico foi criada a 12 de Maio de 1982, pelo Decreto Regional 15/82/A. Corresponde a um estrato vulcão com uma altitude máxima de 2351 metros, sendo a montanha mais alta de Portugal. Além da sua riqueza geológica e biológica, a Montanha do Pico apresenta um elevado valor paisagístico. Por sua vez a Paisagem Protegida da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, foi criada em 1996. Em Julho de 2004, a UNESCO considerou-a como Património Mundial da Humanidade. A área engloba os lajidos das freguesias da Criação Velha e de Santa Luzia. O famoso vinho do Pico é cultivado em pequenas quadrículas de terreno onde crescem as vinhas, separados por muros de basalto negro feitos de pedra solta, chamados localmente de "currais". Destaque para os "maroiços", diversos amontoados de pedra basáltica em forma de pirâmide, ajuntados a quando da limpeza das terras. Localizado na freguesia da Criação Velha, a Gruta das Torres foi classificada Monumento Natural Regional. É o maior túnel lávico conhecido nos Açores, com cerca de 5.150 metros de comprimento e altura máxima de 15 metros. É constituída por um túnel principal de grandes dimensões e por vários túneis secundários laterais e superiores. O seu interior é rico em formações geológicas muito variadas. Presentemente, pretende-se constituir um Parque Nacional na Ilha do Pico, englobando a Montanha do Pico, o Planalto Central com as suas lagoas e a Paisagem Protegida da Cultura da Vinha da Ilha do Pico.

A nível de tradições e festasse a Festa e Procissão do Senhor Bom Jesus, em São Mateus, a Semana dos Baleeiros e a festa de N. Senhora de Lurdes, nas Lajes, o Cais Agosto no Cais do Pico - São Roque, a Festa de São Roque, Festas de Santa Maria Madalena, Semana das Vindimas e as Festas do Divino Espírito Santo, em todas as freguesias e na maioria das localidade da ilha.

Os picoenses dedicam-se à agricultura, pecuária, pesca e a vinicultura. As principais fontes de rendimento agrícola são os produtos hortícolas, a fruta e os cereais. A pecuária está muito desenvolvida, em especial, no município de São Roque do Pico. A pesca é outra atividade económica muito importante. As indústrias da ilha estão, na sua quase totalidade ligadas ao ramo alimentar, laticínios, conserveira, destilarias e moagens. Ultimamente tem havido um significativo crescimento do turismo, nomeadamente do turismo rural, passeios em trilhos pedestres, observação de baleias e pesca submarina. Mas o destaque vai para a vinicultura que, outrora, foi uma das grandes riquezas da ilha que produzia o afamado Verdelho do Pico, era escoado para cidade da Horta para ser exportado para a Inglaterra, a América do Norte e Rússia. No artesanato, destaca-se a escultura em basalto e em osso de baleia, bem como rendas e bordados.

 

NB - Dados retirados da Enciclopédia Açores

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A RIBEIRINHA DO PICO

Sábado, 19.09.15

A Ribeirinha do Pico assenta a sua história no espaço físico entre a rocha alta e baixa, e o interior montanhoso, numa extensão de cerca de um quilómetro, toda virada para a ilha em frente, São Jorge, e a três quilómetros da freguesia da Piedade. Compreende uma zona mais alta – a freguesia da Ribeirinha propriamente dita, e uma zona mais baixa, de veraneio – a Baixa.

Os povos que a habitaram foram buscar o sustento à terra que lavraram, mondaram, desbastaram, juntando pedras, fazendo maroiços, paredes, bardos de abrigo. Das zonas baixas até ao monte mais alto cultivaram vinhas, milho, trigo e outros cereais. Nos espaços mais reduzidos fizeram batatas, inhames, feijão e outros primores de ir à mesa. Dos animais domésticos fizeram a força motriz para a lavra e o transporte. Deles retiraram o sustento: o leite e o queijo. Da ovelha, a lã para o agasalho. Dos suínos tiraram a carne e a gordura. Fizeram enchidos e fumeiros, condutos para o inhame da meia encosta. Estenderam a matéria-prima do leite das vacas, à indústria de produtos lácteos. Construíram por isso sociedades de produção de manteiga que exportavam para o Continente. Hoje, só restam as ruínas dos espaços utilizados, e algum documento perdido nas gavetas de alguns familiares. Aproveitaram a energia do vento para os moinhos de moer. Como não eram suficientes, e nem todos podiam pagar a moenda, muitas foram as atafonas movidas pela força dos mansos bois de lavrar. Moinhos e atafonas fazem parte, hoje, das memórias. Só ruínas e destroços.

Dos mais hábeis e destemidos, nasceram as profissões. Na pedra, foram mestres. Exemplos ainda existem, espalhados pelo casario. A Igreja Paroquial e a antiga Escola e Casa do Espírito Santo, esta com data de 1895, são exemplos. Outros, infelizmente, acabaram no entulho do lixo que não serve. Estenderam a arte por terras vizinhas e pela ilha de São Jorge onde por lá chegavam a estar semanas e meses na construção de casas. Uma delas foi a Igreja de São Tomé, para os lados do Topo, destruída pela crise sísmica de 1980. Das peles dos animais fizeram o calçado – as albarcas. E do cedro, fizeram as galochas. Veio o sapateiro e agasalhou os mais abastados. Vieram outros e mais outros. Alguns assentaram profissão em terras vizinhas. Com a madeira cobriram os tetos de abrigar as casas, fizeram rodas dentadas para moinhos e atafonas, fizeram cangas e “canzis”, arados e carros de bois, cangalhas para burros e bestas.

Na Ribeirinha nasceram as primeiras iniciativas, na ilha, para modernizar a carpintaria e a arte da madeira, destacando-se também alguns notáveis mestres do ferro.

Não menos importante foi a obra das mãos femininas. Se os homens foram mestres, não menos o foram as mulheres, companheiras e geradoras de filhos. Cozeram o pão, cardaram e fiaram a lã. Fizeram sueras e meias de agasalho. Secaram e debulharam os milhos, enchendo as caixas do grão para o pão de todo o ano. E nos campos foram sempre ao lado do arado, deitando à terra a semente de matar a fome.

Os campos foram pródigos para todos. Mais para uns do que para outros. Todos tiveram a sua quota parte. Dos que emigraram, muitos fizeram fortuna. Os mais abastados mandaram os filhos estudar e alguns singraram. Foram professores, advogados, médicos, engenheiros, enfermeiros, jornalistas, padres, deputados, juízes, um monsenhor, um bispo e um notável maestro.

Os anos 50 do século passado foram determinantes para o desenvolvimento da Ribeirinha. Mais do que a estrada Lajes/Piedade, foi a abertura da estrada Piedade/São Roque que abriu por completo as portas aos anseios e preocupações, até então puras miragens, utopias e sonhos, só compensados nos caminhos da emigração e desfeitos mais tarde. Nos últimos anos foram melhoradas as antigas canadas de acesso, refundidas e adaptadas às exigências dos novos meios de transporte e até à beira rocha, o acesso, agora, é de fácil melhoramento para viaturas ligeiras. É de valor acrescentado para as propriedades circundantes.

Todavia, o maior interesse está no mirante sobre a arriba, pois ultrapassa o interesse local. O Alto dos Cedros é, na verdade, um mirante, menos grandioso do que o da Terra Alta na estrada corrente, mas não menos belo. É importante que seja procurado por visitantes, que hoje, com frequência, desembarcam e vão ao encontro de todos os recantos da ilha. O acesso pedonal, do mirante à profundidade da beira-mar, continua. Os trilhos podem de novo ser melhorados. A costa marítima, pródiga que sempre foi nas coisas que o mar produz, lá continua esperando por quem gosta de molhar os pés nas águas do baixio e provar do que ele oferece.

Se os acessos, hoje, são estruturas que melhoraram a vida dos habitantes, não menos importante foi o primeiro abastecimento de água. Com efeito, a partir de 1955 a água chegou à freguesia em cinco chafarizes e dois bebedoiros públicos. Para trás ficaram os calvários diários de ir, à fonte da rocha, buscar água para os amanhos da casa, sobretudo quando os tanques esvaziavam ou subir as encostas para ir lavar roupa para o Paul do Juncal. A água foi um salto qualitativo. Hoje, é um bem precioso que vai a todas as casas.

No campo recreativo e cultural surgiu o Salão da Casa Nova, hoje Centro Comunitário da Casa do Povo da Ribeirinha, servindo para os mais variados eventos culturais, religiosos e recreativos. Munida de espaços exíguos, no início da construção foi mais tarde melhorada, e hoje, embora permaneçam os espaços iniciais, possui as instalações próprias para os dias de maior movimento, como sejam as Coroações do Espírito Santo. Por fim, veio a luz comunitária, hoje é pública a rede elétrica. Sempre na Ribeirinha se fizeram cantares pelo Natal, pelas Matanças, pelo Carnaval, pelo Espírito Santo. Sempre se cultivou o hábito das chamarritas e dos bailes de roda, antigamente nas salas maiores das casas de habitação, hoje nos salões comunitários. Notáveis foram os Ranchos do Natal, os Bandos do Carnaval, os Foliões, sem esquecer as satíricas festas dos cornos do 25 de Abril, dia de São Marcos. São também de assinalar os eventos criados por professores, padres e outros carolas de habilidade nata, como sejam os teatros populares, comédias e dramas, e atos de variedades, nos palcos improvisados por ocasião das festas de verão, à claridade da luz incandescente de petróleo, dependurada nos cantos da boca do palco. Hoje, os salões da Ribeirinha e da Baixa são espaços que esperam pelo público e pelos artistas.

Nos tempos que correm, a freguesia da Ribeirinha goza de estatuto próprio e soube aproveitar os benefícios da Autonomia e do seu estatuto próprio. A água pública vai a todas as casas. A luz também. O asfalto cobre os caminhos principais. A qualidade de vida chegou. Importa conservar, consolidar, não estagnar.

 

NB – Dados retirados do blog de E.P. “Alto dos Cedros.

 

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O PICO, A MONTANHA, AS GRUTAS E MUITO MAIS

Domingo, 06.09.15

A Montanha do Pico, com os seus cerca de 2350 metros de altitude, é o ponto mais alto de Portuga. Subi-la foi sempre e ainda continua a ser um desafio fascinante e invulgar. Chegar lá bem ao alto e ver nascer o astro-rei, ao mesmo tempo que se observam, lá em baixo, as restantes ilhas do grupo central, é um espetáculo deslumbrante e inesquecível. Trata-se de um vulcão ainda com uma fraca mas bem percetível atividade, de vertentes íngremes, sobretudo do lado sul, sobre a freguesia de São Caetano, a mais próxima da montanha, dela recebendo algumas influências, sobretudo a nível climático. Atualmente as subidas manifestam-se bastante mais sofisticadas e apoiadas, pelo que consequentemente são mais seguras, tornando-se num quase vulgar ato de turismo. Especialmente nas épocas da primavera e do verão, realizam-se frequentes e contínuas subidas à montanha, sendo esta uma experiência única pela aventura e pela incrível paisagem que, ao subir, dali se disfruta. E se, por motivos de mau tempo, ou de nevoeiro intenso, como aconteceu por estes dias, a subida à montanha é fechada pelos controladores da casa de apoio, todos se agigantam em protestos e contestação. Com os meios de que os guias, atualmente, dispõem pode-se subir a montanha em segurança com qualquer tempo. Mas com sol e bom tempo, o espetáculo é, substancialmente mais belo e atrativo. Pelo Património Natural Biológico que alberga, a Montanha do Pico recebeu o estatuto de Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura 2000.

Mas quem visita o Pico não deve ficar apenas pela subida à montanha, uma vez que a ilha usufrui disponibiliza aos visitantes muitas outras atrações turísticas com destaque para as Grutas das Torres, os museus da Baleia e do vinho, o núcleo museológico do Lajido, a paisagem protegida da vinha, as furnas de Santo António, o Parque Florestal da Prainha, etc, etc.

As Grutas das Torres, situadas na Criação Velha, logo a seguir à saída da Madalena para sul, representam o maior tubo lávico conhecido em Portugal, com 5150 metros, de elevado interesse ecológico e geológico. Com um centro de interpretação, parte da gruta pode ser explorada com o apoio de um guia especializado. Antes de entrar na gruta é proporcionada aos visitantes uma sessão informativa de grande interesse. Devido à sua importância como património natural, esta gruta foi classificada como Monumento Natural Regional.

O Museu do Vinho, instalado na Casa Conventual dos Carmelitas, construção dos séculos XVII e XVIII, na saída norte da vila da Madalena, é constituído por dois edifícios. O primeiro, de dois pisos, sendo o superior destinado a habitação e o inferior para a adega e o segundo, onde se encontra o alambique. Existe ainda uma mata de dragoeiros e um miradouro de onde é possível observar os currais de vinha. Neste museu está representado a cultura da vinha e a produção do vinho na ilha do Pico.

Por sua vez, o Museu da Indústria Baleeira de São Roque do Pico é o polo explicativo da atividade “Memória Baleeira”, sendo o principal centro de transformação industrial dos cachalotes capturados no grupo central dos Açores. Com a adaptação da antiga fábrica a museu, os objetos industriais passaram a ter a nova função de testemunho, relembrando o amplo complexo processo de transformação industrial do cachalote.

O Núcleo Museológico do Lajido de Santa Luzia é um espaço que testemunha o cultivo da vinha e a produção de vinho e aguardentes, uma das maiores fontes de riqueza a nível da economia do concelho, que traduz o êxito da exploração dos seus solos vulcânicos no final do século XV. O Núcleo museológico dispõe de um valioso espólio composto por um centro interpretativo da paisagem da vinha e do vinho, um armazém, outrora, um complemento ao alambique, para o armazenamento das frutas em fermentação, para depois serem transformadas em aguardente, e onde se expõem utensílios e alfaias agrícolas e se pode observar um alambique utilizado para a produção de aguardente de figo e de vinho e uma típica adega regional.

A Paisagem Protegida da Vinha, outro local de grande interesse, é uma extensa área de um notável padrão de muros lineares paralelos e perpendiculares à linha de costa. Os muros foram construídos pela mão do homem com pedra vulcânica para proteção dos milhares de pequenos currais da água do mar e do vento, para plantação de vinha. Este sítio está classificado pela UNESCO como Património da Humanidade.

A norte, as Furnas de Santo António também se enquadram numa área classificada como Zona de Proteção Especial. Estão situadas junto á linha de costa, constituída por uma falésia rochosa e pelos ilhéus, formações basálticas, onde nidificam colónias de aves marinhas, com destaque para o cagarro e o garajau.

O Parque Florestal da Prainha do Norte oferece grandes zonas arborizadas e uma área botânica na qual se encontram expostos diversos exemplares de vegetação endémica dos Açores Neste Parque estão implantados dois imóveis de grande valor histórico e patrimonial, nomeadamente a casa e a adega, típicas da ilha do Pico, que expõem valiosos e significativos objetos ligados á arte de viver Açoriana.

A nível religioso destacam-se o Santuário Diocesano do Bom Jesus, uma imponente construção com um corpo principal dividido em três naves, por duas séries de arcos. Capela-mor é dedicada ao Santíssimo Sacramento e São Mateus. Uma capela lateral é dedicada ao Senhor Bom Jesus e constitui o segundo maior centro de devoção e peregrinação dos Açores e ainda o Convento de São Pedro de Alcântara, testemunho do património religioso construído no Município de São Roque e que constitui um exemplo da arquitetura barroca, guardando no seu interior valiosas talhas douradas, azulejos historiados na capela - mor e um imponente arcaz em jacarandá na sacristia. Nas Lajes destaca-se um outro convento franciscano, a igreja da Senhora da Conceição e a ermida de São Pedro, o primeiro edifício religioso construído na ilha.

De visitar ainda as interessantes lagoas, situadas no interior da ilha, com destaque para a Lagoa do Capitão, a maior do Pico, que possui na sua imediação uma abundante vegetação endémica da macaronésia, muito rica em várias espécies com destaque para a erica azórica, o cedro, o loureiros e o vinhático.

As Lajes do Pico, que muito justamente recebeu o epíteto de vila Baleeira, constitui um conjunto harmonioso da memória baleeira, por nela se concentrar o maior património baleeiro dos Açores, testemunho do passado e estímulo para o futuro. De entre o vasto espólio cultural, destaque para o Museu dos Baleeiros e a antiga fábrica SIBIL. Há ainda a referenciar como locais de interesse turístico o Monumento à Baleação, os botes baleeiros, as casas de botes, as torrinhas em madeira de alguns edifícios e ainda o scrimshaw ou seja a gravação artesanal em osso ou dente de cetáceo. A observação de baleias e golfinhos e as regatas em botes baleeiros são algumas das extensões desta cultura. Os aspetos religiosos e festivos atuais incluem uma semana de atividades culturais, desportivas, religiosas e de lazer, denominada Semana dos Baleeiros em Honra da Senhora de Lourdes. O Forte de Santa Catarina, localizado à entrada da vila, constitui um magnífico exemplar de arquitetura militar do século XVIII, tendo sido recuperado e inaugurado em 2006. O Forte, com o seu miradouro é um espaço privilegiado de fruição do imenso panorama oceânico.

O Parque Matos Souto, na freguesia da Piedade é uma unidade paisagística inserida em parte dos terrenos do Parque Matos Souto, formada por jardim, viveiros, "cerrados" de cultivo e pasto e edifício de dois pisos mais sótão. O jardim apresenta grande variedade de espécies arbóreas e arbustivas e inclui a recriação de ambientes no âmbito da etnografia agrícola da Ilha do Pico.

Em São João, para além do saborosíssimo queijo que ali se fabrica, há que referenciar o Museu "O Alvião". Trata-se de um conjunto arquitetónico constituído por casa de habitação tradicional, com adega, tanque e áreas de cultivo. Tem igualmente um pequeno núcleo dedicado à cultura pastorícia e à divulgação do queijo.

De visitar ainda os moinhos de vento da Ponta Rasa e do Morricão, Ermida de Santa Isabel, assim como muitas igrejas, ermidas, capelas do Espírito Santo e muitas outras construções.

 

NB – Dados retirados dos sites das Câmaras Municipais da Madalena, São Roque e Lajes do Pico.

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publicado por picodavigia2 às 00:05

VISITAR O PICO

Sábado, 29.08.15

O Pico abarrota de lava e evapora enxofre. Muito interessante é o facto da maioria das paredes que dividem as propriedades agrícolas serem autênticos pedaços de lava, algumas até com formas e feitios muito curiosas. Esta lava solta e muita outra fixa aqui e além, sobretudo à beira-mar permite poder-se afirmar que o Pico é a ilha benjamim, isto é, a mais nova das ilhas açorianas, enquanto Santa Maria tem o estatuto de a mais velha, com mais 10 milhões de anos do que o Pico. Quanto ao seu descobrimento e o das restantes ilhas do Arquipélago é ainda pouco claro, existindo correntes históricas que afirmam que as ilhas, embora com nomes muito diferentes dos atuais, já virem designados e referenciadas em mapas e portulanos genoveses, desde 1351, embora as Flores e o Corvo, provavelmente, tenham sido encontradas mais tarde. Quanto ao povoamento, sabe-se que a partir de 1431, começaram a chegar os primeiros colonos, às ilhas mais orientais, incluindo as do grupo central e, consequentemente, o Pico.

De facto, segundo alguns historiadores mais rigorosos não se tem um conhecimento exato sobre a data da descoberta da ilha do Pico. Cuida-se, no entanto, que o seu povoamento, terá começado na zona das onde hoje se situa a vila das Lajes, por volta de 1480. É nas Lajes que existe a mais antiga ermida da ilha, dedicada a São Pedro. Sabe-se também que, desde os primeiros tempos, o Pico se tornou num importante empólio comercial, dada a facilidade de comunicação portuária com a Ilha do Faial, e com a crescente importância agrícola, nomeadamente no cultivo de trigo, criação de pomares e na importante vinha, que alterou a paisagem e a cultura ocidental da Ilha, classificada desde 2004 Património da Humanidade pela UNESCO.

Esta semana, a última de agosto, como é tradição, a vila das Lajes celebra a festa da Senhora de Lurdes, padroeira dos baleeiros. Na verdade, durante muitos anos, a baleação foi uma das maiores e mais importantes atividades económicas da vila e da ilha. Além disso os homens do Pico notabilizaram-se como baleiros, espalhando a sua arte e sabedoria pelas restantes ilhas. Hoje esta atividade está estampada e patente no Museu dos Baleeiros, também situado nas Lajes, sendo exatamente a caça da Baleia, muito desenvolvida e influenciada pela presença Norte Americana na Ilha, desde finais do século XVIII, e hoje em dia transformada em aprazíveis viagens de observação destes e outros cetáceos, em momentos inesquecíveis.

A Ilha do Pico apresenta diversos pontos de interesse, começando pela própria arquitetura típica de casario simples branco e blocos de lava preta das adegas, que tão bem espelham a origem vulcânica da Ilha, mas também lugares como as principais localidades: Lajes, São Roque e Madalena, plenas de história e património, ou outros locais de encanto natural como a famosa Gruta das Torres, as Furnas de Frei Matias ou a formação rochosa do Arco do Cachorro, ou a Prainha do Galeão.

Um paraíso para todos os amantes da natureza, a Ilha do Pico, plena de tradição, oferece também um bom património gastronómico, muito baseado em pratos de peixe e marisco, de onde sobressaem as famosas caldeiradas, o caldo de peixe ou o peixe grelhado e a albacora assada no forno, mas também na mais saborosa carne provinda dos muitos pastos que por aqui se encontram, as tradicionais sopas de Espírito Santo, a molha de carne, não faltando a massa sovada, o arroz doce e o afamado queijo, o de São João, do Arrife, da Prainha e outros. Tudo regado, claro está, pelo Vinho Verdelho, ou pelos muito apreciados vinhos tintos e brancos da Ilha, cuja história também está patente no Museu do Vinho, localizado na Vila da Madalena.

Por todas estas razões e por muitas outras vala a pena Visitar o Pico.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:07

OUTRA VEZ O PICO

Sábado, 22.08.15

Outra vez o Pico! Outra vez a segunda maior ilha do arquipélago açoriano, maior em tamanho, diga-se em abono de verdade, porquanto em termos de população a sua grandeza deixa muito a desejar. Serão pouco mais de 14.000 os nela residentes. Mas em outros parâmetros o Pico não desarma nem nos ilude. Sobretudo em beleza e sublimidade, o Pico é grande, uma espécie de joia natural, como alguém o apelidou, epíteto que lhe assenta como uma luva. A coroar toda a beleza e grandiosidade, altivez e deslumbramento, a sua majestosa e imponente montanha também ela muito grande e sobretudo muito alta, o ponto mais alto do território Português, com o pico do Pico, bem lá no alto, situado a 2351 metros de altitude, conhecido pelo Piquinho do Pico.

Mas chegar ao Pico, partindo da cidade do Porto, nem sempre ou quase nunca é fácil e rápido. Ou se esquarteja o espaço que separa a urbe tripeira da ilha de lava e se salta de ilha para ilha, esbanjando tempo, demorando uma eternidade, ou se partilha o mesmo espaço, obrigando a pernoitar na ilha do Arcanjo, essa sim a maior parcela açoriana, não apenas em superfície mas também em população. Há outras hipóteses, mas também elas morosas e desgastantes. Viajar até à capital de autocarro, em quatro longas horas de caminhada noturna, com horários desencontrados com os aviões ou então seguir rumo ao Faial, para onde há melhores e mais frequentes voos e depois tomar a lancha para o Pico, com horários também desencontrados. Enfim, de uma forma ou de outra, com mais ou menos demora, com saltos ou sem eles, chega-se ao Pico. Mas na vrdadem vale a pena, para saborear este adocicado torrão de lava negra, de cerca de 450 km2 de superfície, 42 km de comprimento e 15 de largura máxima, inserido no grupo central de lhas da Região Autónoma dos Açores. Além disso o Pico também é uma das designadas ilhas do triângulo, estando os outros vértices, um no Faial e outro em São Jorge. Recorde-se, para os menos circulantes destas paragens que o arquipélago dos Açores ao Pico se divide em três grupos: o Grupo Oriental constituído por São Miguel, Santa Maria e os ilhéus das Formigas; o Grupo Central com Faial, Pico, São Jorge, Terceira e Graciosa e o Grupo Ocidental, formado pelas ilhas Flores e Corvo.

Mas na verdade, cada vez que se regressa ao Pico saboreia-se um oásis de serenidade, comunga-se um paraíso de bem-estar, envolvemo-nos uma espécie de reserva de sossego ou mergulhamos num seleiro de tranquilidade. Voltar ao Pico é embebedar-se com o silêncio estonteante das brisas matinais, entrelaçado com o chilrear irreverente e estouvado da passarada e com os murmúrios maviosos das marés, é purificar-se com os salpicos adocicados duma maresia adormecida, ondulada, apenas, com o sulcar dolente das quilhas das embarcações, a rilharem em redopio, na demanda de chicharros e bonitos ou então de outras mais sofisticadas e modernas na observação de baleias e golfinhos. E como se isso não bastasse, o Pico, quando a ele se regressa, enleva-nos no aroma vertiginoso dos cachos de uva a amadurecerem nos currais de lava, encharca-nos num perfume de maresia e embala-nos no escurecer zonzo e colaço das noites claras, luminosas, embebidas de luar e de sublimidade e a abarrotar de cânticos e danças das cagarras. No Pico, muitas vezes contrariamente ao que se anuncia em jornais, rádios e televisões continentais, há sol, muito sol, destemido e florescente a desfazer madrugadas, já sonsas e sombrias e a aniquilar, por completo, as tardes escurecidas e enevoadas. Por vezes, demasiado, excessivo destruidor de collheitas. No Pico há mar doce, envolvente, de águas puras, cristalinas, purificadoras, mesmo milagrosas. Regressar ao Pico é mergulhar neste mar, encharcar-se neste chão, comungar uma estranha força telúrica que nos atrai, prende e enleva. A Ilha Montanha, qual gigante adormecido no meio do atlântico, cobre-se com mantos de tonalidades variadas onde predomina o verde pardacento das encostas, o azul dourado do oceano, o amarelo suculento da cana roca e dos pêssegos, o vermelho da uvas e das amoras e o negro enigmático das paredes das adegas, dos currais, dos maroiços e de uma ou outra casa. Regressar a Pico é encafuar-se num paraíso, num sonho de paz e silêncio, deixar-se envolver num rendilhado negro e rude, aqui e além galvanizado de verde luxuriante e desenvoltos, penetrar nos campos calafetados de lava ou até subir a imponente Montanha, conquistando uma enigmática e inesquecível sobrenaturalidade. Regressar ao Pico, apesar dos estrepitantes solavancos duma viagem longa e cansativa é deixar-se imergir num sonho bordado a púrpura, ungido com encanto das paisagens, pincelado com silêncio das madrugadas. Na verdade o Pico apresenta-se como um éden, puro e original, para todos os amantes da natureza, disponibilizando-lhes também um excelente património gastronómico.

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SENHOR BOM JESUS DO PICO

Quinta-feira, 06.08.15

Em meados do ´seculo XIX terá chegado à ilha do Pico a imagem do Senhor Bom Jesus Milagroso, sendo colocada na igreja paroquial de São Mateus do concelho da Madalena, desencadeando uma invulgar atração e uma forte piedade dos fiéis, não apenas da ilha do Pico mas de todas as outras nomeadamente das que se situam mais perto: S. Jorge e Faial.

Foi o emigrante picoense, Francisco Ferreira Goulart, que se fixara na vila costeira de Iguape, no estado de São Paulo, no Brasil que, tornando-se devoto o Bom Jesus, decidiu, no regresso à ilha, em 1862, adquirir e trazer consigo a imagem para a oferecer à igreja da freguesia onde nascera.

Depressa a devoção ao Senhor Bom Jesus se espalhou e o majestoso templo onde se conservava a imagem converteu-se num polo para onde convergia e donde irradiava uma religiosidade popular sem paralelo e que viria a determinar a sua elevação à categoria de Santuário Diocesano, em 1962, pelo então bispo de Angra Dom Manuel Afonso Carvalho.

A imagem do Bom Jesus é a figuração iconográfica do Senhor no quadro da sua paixão em que foi exposto à população na varanda de pilatos, pelo próprio procurador romano. à imagem de Cristo crucificado,  representação de Cristo doloroso e sofredor. Esta imagem do Cristo sofredor provocou uma enorme devoção que se radicou na ilha do Pico, atingindo uma enorme vigor, cujo epicentro se concretiza no dia da sua festa, que tem lugar naquela freguesia, todos os anos no dia seis de Agosto.

De referir que esta devoção ao Senhor Bom Jesus, sempre com réplicas da sua imagem, se difundiu em duas outras paróquias do Pico: Calheta de Nesquim e Criação Velha e outras duas na ilha do Faial: Angústias e Cedros, três de São Jorge: Urzelina, Calheta e Santo Antão, uma na Terceiram curiosamente na freguesia com o mesmo nome São Mateus; e uma outra na Pedreira do Nordeste, na ilha de São Miguel. A devoção e o culto ao Bom Jesus está também largamente espalhada na diáspora açoriana, nomeadamente nos Estados Unidos da América, tanto na costa leste, em New Bedford e Newport, como na longínqua Califórnia, onde é mais sentida a presença de imigrantes açorianos idos dos grupos central e ocidental e também no Canadá, na zona de Ontário.

Como alguém escreveu “Por toda a ilha e ao redor da terra picoense (ou picaroto) tem o céu, a religião e a oração sintetizados na imagem, na figura soleníssima, sofredora e máscula do Senhor Bom Jesus do Pico... Todos um dia passaram por São Mateus em caminhadas de penitência e de gratidão. O Bom Jesus os levou por terra dentro e pelo mar fora e por sua vez eles O trazem para as terra de emigração e assim a sua imagem reflete (apenas por coincidência?) a estatura do homem do Pico, da sua verticalidade no gesto e na palavra, no sucesso e na adversidade, na dor, no passo, no ato de viver e na própria morte. O homem do Pico que se preza de o ser onde quer que esteja tem, na súmula de todos estes aspetos, o ar imponente e esbelto que o Rei da sua ilha – o Bom Jesus – apresenta... Assim mesmo: com espinhos e a corda e cetro e as vestes do escárnio. Mas de cara alevantada para a terra e para o mar – para a vida.”

 

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PUDIM DE ROSQUILHA (PICO)

Quinta-feira, 30.07.15

No Pico, sobretudo nas freguesias do sul da ilha, desde a Madalena à Piedade, as rosquilhas abundam, especialmente, por alturas das em louvor do Divino Espírito Santo. Cozidas nos dias que antecedem as festividades, são conduzidas em açafates, à cabeça, em cortejos e, depois de benzidas, distribuídas por todos os presentes nas festas. Nesses dias as casas enchem-se desse saboroso pão, feita de massa sovada. Hoje, as excedentes são guardadas nas arcas e congeladores mas antigamente eram guardadas até enrijecerem. Era com as sobras das que não se comiam que se fazia um excelente pudim, conhecido por Pudim de Rosquilha. Aqui se regista uma muito antiga receita de confeção desse pudim:

Ingredientes: 6 Ovos; 3 Chávenas de rosquilha esfarelada; 1 Colher se sopa de manteiga; 1 Chávena e meia de açúcar; 3 Colheres de açúcar; 2 Chávenas de leite; Raspa de Limão q b.

Confeção: Queima-se uma chávena de açúcar e mistura-se a manteiga. Depois de estar tudo derretido junta-se o resto do leite. Junta-se a rosquilha, envolvendo muito bem. Por fim misturam-se as gemas batidas. Com ½ chávena de açúcar.

Batem-se as claras em castelo e juntam-se as 3 colheres de açúcar.

Coloca-se a massa no fundo de uma travessa e por cima as claras em forma de suspiros ou merengue.

Vai ao forno a alourar.

Trata-se de um pudim delicioso, para além de um excelente aproveitamento das rosquilhas, quando mais envelhecidas e rijas.

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ILHA MONTANHA

Quarta-feira, 15.07.15

No magro chão de lava há perfume 

E o fluxo das marés sabe a frescura.

O Pico é um retalho de verdura

Do sopé da montanha até ao cume.

 

E se as fontes andejam de secura

Ou se o chão treme e arde em cruel lume

- Dias de terror, laivos de negrume -

O mar se abre logo. - Tanta fartura!

 

Zonzos, os currais negros dos vinhedos

Transformam esta lava em doce mosto!

Trabalhos tão sofridos são folguedos…

 

E nesta ilha de lava ressequida,

Até festas e folgas, em Agosto,

Joeiram o chão seco, dão-lhe vida!

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ENALTECIMENTO DA LAVA

Terça-feira, 14.07.15

O Pico, visto lá do alto, parece um respingue de lava, atirado à toa, para cima do Atlântico. Outrora lava vermelha, incandescente, fumegante e destruidora, mais tarde negra, inturgescida, basáltica e besuntada de enxofre, agora aureolada de verde, benéfica, produtiva, atraente e perfumada de mosto e de salpicos de maresia.

Mas ontem como hoje, esta lava é uma espécie de sangue negro, fecundo e vigoroso, derramado sobre um chão pétreo e consistente, que o alimenta, o tonifica e o transforma em vinhedos, em campos de milho, em pastagens ou em encostas a abarrotar de florestas de faia, de incenso e de árvores de fruto que o vão atapetando a escarpada montanha do sopé até ao cume, onde, umas vezes, escorrem flocos calcificados de gelo, outras fragmentos caramelizados de neve, e onde sopra sempre um vento destemido, mesmo violento, mas com um ar enternecedor de benfazejo, sobretudo quando acompanhado pelo suave lacrimejar do orvalho acariciador das madrugadas.

A lava é vida neste Pico. A lava é esperança neste mar. A lava é crença deste povo. A lava é suco generoso, é chão amigo. A lava é uma espécie de bálsamo tonificante e fertilizador, que transforma o sofrimento em promessa, a angústia em esperança, destruição em recompensa, o deserto em abundância, o nada em tudo.

A lava, nascida bem lá no fundo da Terra, sobe à tona e alastra por aqui e por além, cobre tudo, verte-se em torrente sobre este chão e nele desliza como se fosse um rio gigantesco e negro, a arfar de desejos inexperientes, sem pontes, sem açudes e a perder-se por entre andurriais angustiantes, a entrincheirar-se entre margens de suplício. Mas um rio cheio de esperança contagiante, a abarrotar de alegria inocente e pura, a transbordar de madrugadas sonhadoras.

A lava do Pico é um rio de espuma incandescente, a deslizar por entre pedaços de chão rachado, a fertilizar os vales, a enrijecer os montes, a calcificar os pântanos e as lagoas, a alimentar os vinhedos e as florestas, a perder-se, como que envergonhado e tímido, no meio de um oceano de desejos indefinidos, transformando-se em gigantescas marés de graça, de solenidade e de ternura

E a lava negra deste Pico, ontem vermelha e destruidora, transformou-se, por mãos calejadas e dolentes, num gigantesco e pétreo manto verde de esperança.    

 

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OS MURMÚRIOS DOS BÚZIOS

Segunda-feira, 13.07.15

Viver junto ao mar, numa casa simples, pequenina, ou numa adega transformada em moradia mas ornada com flores de algas e perfumada com os afagos oscilantes das marés, senão deslumbrante é encantador Mas se quisermos ser mais precisos, afinal, numa ilha, por mais alta e maior que ela seja, nunca se mora junto do mar. Na verdade, numa ilha é sempre o mar que mora junto de nós. É o mar que impera no nosso quotidiano, que o cerceia com um marulhar contínuo sobre as rochas, com uma maresia persistente, decalcada em ondas baloiçantes, a perderem-se num vaivém irrequieto, umas vezes embravecido outras ternurento, mas sempre a trazer uma salubridade adocicada, uma brisa inebriante, um resfolgo de liberdade.

Desde criança que que ma habituei a viver junto do mar, embora noutra ilha, mais pequenina e sem montanha. Vezes sem conta ouvia a minha avó, de olhar fixo no horizonte, contar: quando Deus o criou, o mar pediu-Lhe que o deixasse crescer um cabelo em cada ia. Deus não autorizou. Então o mar pediu-lhe que o deixasse comer uma pessoa por dia. Ou então explicava: o mar, para além de maior e de mais inquietante, também é mais rico do que a terra. Mas não eram as histórias, os tesouros dos navios encalhados, nem o ouro das caravelas perdidas, nem os cofres dos piratas naufragados, nem sequer o pescado fluente, quotidiano, despejado sobre o cais, a ressuscitar o reboliço da lota que me cativava. Por nada disso ansiava. Do mar, eu queria apenas os búzios.

Nesses tempos de criança, lembrava-me frequentemente de ter lido no livro da quarta classe um poema que dizia: Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. É este mar salgado, recheado de história e de saudade, paternal e amigo, que me atirava respingos de salmoura, que, por vezes, até me cobria de espuma e que me transformava numa espécie de escudo translúcido que me protegia de nevoeiros e caligens. Belo poema aquele, uma espécie de cântico dos cânticos, um elogia da maresia, talvez o hino daquele torrão azulado, enorme, que, por vezes e em sonhos, me parecia tornar o nundo infinito. Mas do mar não queria nem o infinito, nem o azul, nem sequer as lágrimas dos seus heróis, transformadas em cristais de sal. Do mar, eu queria apenas os búzios.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Terminava assim aquele belo e sublime poema de Fernando Pessoa. E um poeta nunca se engana a versejar sobre o mar. E sobre o mar não faz versos apenas um poeta. Talvez até muitos outros poetas tivessem trovado sobre o mar. Quando morrer quero levar comigo um pedacinho do mar, para recuperar o tempo que vivi sem ele. Escreveu Sofia noutro belo poema. Mas também do mar não queria outrora, nem quero hoje, os poemas, embora me deleite a apreciar alguns deles. Do mar, eu queria e quero apenas os búzios.

Nestas tardes solarengas dou comigo a caminho do mar. Por vezes, até nas madrugadas sombrias, nas tardes enevoadas e nas noites de Lua Cheia escapulo para junto do mar. É uma mágoa, um tormento, uma angústia, uma consumição, ver este enorme lençol de água, sem Sol, sem uma réstia de luminosidade que, ao menos, tivesse ficado esquecida do dia anterior. Mas dura pouco esse cenário. A aureolar-se aos poucos, depressa se vai transformando num clarão que clarifica e enternece as rochas, os baixios, os escolhos e até o sargaço que, arrancado das profundezas pela força das correntes, flutua suavemente sobre as águas. Mas do mar não quero nem as rocha nem os baixios, nem escolhos, nem sequer o sargaço, mesmo já postado em terra e a secar, no estio. Do mar, quero apenas os búzios.

Depois são as ondas, umas vezes pequeninas, lisas, sonolentas, outras enormes, gigantescas, altivas, bravias, mas sempre a irem e a virem, num vaivém ritmado, umas vezes mais suave e embelecido outras, agreste, toldado e raivoso, a saltarem por entre os esconderijos das enseadas, repletos de sombras e de mistérios ou a enrolarem-se nos pedestais das baixas e dos ilhéus, cravejados de lapas e assolados por caranguejos. Mas do mar também não quero nem as ondas, por mais mansas e quietas que estejam, nem os ilhéus, nem o negrume basáltico dos baixios. Do mar quero, apenas, os búzios.

Estranha obsessão esta, a de nada mais querer do mar, para além dos búzios. E sabem porque do mar quero apenas e somente os búzios? Simplesmente para os colocar junto ao ouvido e ali ficar, um minuto que seja, a ouvir o suave murmurar do oceano. É que dentro dos meandros cavernosos e enroscados das suas conchas, o mar nunca é revolto, não há tempestades nem bravezas e as ondas, ali, ouvem-se sempre, suaves e doces, os seus murmúrios, como se fosse em eco, a baloiçarem sempre, num vaivém ternurento e meigo, semelhante, talvez mesmo igual, àquele com que as mães embalam os seus filhos.

Quão deslumbrantes são os murmúrios dos búzios.pico

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O PICO EM JULHO

Domingo, 12.07.15

Mas os dias, neste julho, no Pico não são todos de chuva, nem nunca chove todo dia. Na verdade, em julho, desfruta-se de um tempo de verão. A ilha reveste-se de bonança, de tranquilidade, de graça, de beleza e duma amena solicitude. Simplesmente invejável! A montanha, imponente e altiva, cobre-se, bem lá no cume, de um véu alvíssimo, enternecedor, enovelado pelos raios doirados de um Sol acariciador e compassivo. Depois, pelas encostas abaixo, a escorrer como se fosse lava, um manto verde de pastagens e de florestas, a cobrir os andurriais circundantes, a derramar-se e a estender-se até às terras de cultivo e aos vinhedos, já de cachos imberbes, à espera da última sulfatadela quase até aos casebres e às habitações das pequenas mas graciosas povoações, plantadas à beira-mar, como que a fazer uma espécie de ponte de alvura e graciosidade, entre a montanha e o oceano, entre a terra e o mar.

Na realidade, neste Julho, o Pico tem usufruído de um Sol bonançoso e benfazejo, que se atira em catadupa, abrupto e à esmo, parece mesmo que inconsciente ou quase louco, pela montanha abaixo, iluminando os seus recantos mais recônditos, aquecendo as encostas menos soalheiras, acariciando os andurriais circundantes, cavalgando sobre o dorso negro da ilha. Depois, numa louca correria, avança até cá a baixo, na direcção de campos e pastagens, de hortas e quintais, borrifando-os de verde, transformando-os em vida, conferindo-lhes uma frescura mágica, um dinamismo sobrenatural, um capacidade produtiva senão única, pelo menos rara e pouco vulgar. Nas encostas do Pico, com este Sol tonificante e com a chuva, sempre atrevida, sempre atiradiça e sempre à espreita duma oportunidade, por mais pequena que seja, para substituir o Astro-Rei, tudo vegeta, tudo floreste, tudo renasce e tudo se torna vida. Até as ervas daninhas. No ar paira um perfume a vinhas empoladas e figueiras debutantes, das encostas chovem sabores de incensos e de faias, nas hortas e pomares vertem-se sumos adocicados e até nos maroiços reina o sabor apetitoso, do funcho, da hortelã, da salsa e do rosmaninho. Os campos a abarrotar de milhos ainda imaturos, à espera do primeiro desbasto, mas muito verdes e viçosos, embora sem a liberdade das ervas que proliferam nas pastagens do mato, porque limitados e condicionados pela vontade dos agricultores, pelas limitações dos terrenos ou pela falta da água. Mas até nos matos a vida nasce, cresce, se firma e estabelece. Aa vacas rodeiam-se das suas crias. Há vitelos rechonchudos e vivaços. As cabras nos currais regalam-se com faias, com os incensos e com os excedentes dos milhos. Os pássaros povoam os ares em alegres danças e enigmáticos cantares e até mar, bem plantado ao redor da ilha, como que se torna mais calmo, mais azul, mais tranquilo. Lá ao longe uma embarcação, um veleiro, um navio de que se adivinha o destino.

Tudo é vida, tudo é graça, tudo é luz, neste Pico de um Julho que parece curto! O tempo é de Sol, de visibilidade, de calma, tranquilidade e de bonança. Os dias são de luz, de brilho, de paz, de trabalho e de alegria. Transformam-se em vida, são a própria vida. A vida dos que aqui vivem, trabalham, labutam e erguem uma enorme montanha coberta com um manto de sonhos retalhados, de esperanças desfiadas, de tranquilidade e de quietude perenes.

Mas o Pico, com este tempo admirável, também é simplesmente invejável, para os que o demandam nesta época. Na realidade quem visita os Açores, nomeadamente a ilha do Pico, para além de desfruir de um tempo maravilhoso, pode ufanar-se de ter o privilégio de apreciar paisagens de uma beleza rara, de uma expressividade inconcebível e duma graciosidade invejável. Assim como o Pico, as restantes ilhas açorianas, são na realidade espaços raros, desconhecidos, privilegiados, como que encerrados numa espécie de redoma de cristal, que urge quebrar.

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publicado por picodavigia2 às 00:00

A CHUVA E OUTROS ENIGMAS

Sexta-feira, 10.07.15

A chuva, aqui no Pico, embora muitas vezes incomodativa, insensata e até indesejada, é um dom sagrado, uma dádiva celeste. Sem água não há vida na Terra, sem água as colheitas não crescem, não se desenvolvem, não produzem. Aqui, no Pico a única água que alimenta os campos e que dá vida às plantas, que faz nascer as sementeiras, que fortifica as árvores de fruto é da chuva. Por tudo isso a chuva é um enigma abençoado. Quando chove, os agricultores ficam mais descansados e satisfeitos e os criadores de gado regozijam-se, porquanto a chuva, para além de fortificar a erva das pastagens, enche os poços de água, a fim de que os animais possam saciar a sua sede. Mesmo que sejam uns ligeiros chuviscos, são sempre abençoados. Aliás as aguaceiras torrenciais, exageradas, geralmente são prejudiciais. O Pico é, por natureza uma ilha muito seca. No seu subsolo existe pouca água. As nascentes e as fontes não são abundantes. Por isso a chuva é quase sempre desejada. Desejada sobretudo quando numa manhã soalheira se arrancam as mondas, se alisa a terra, se fortalecem as plantas e as árvores de fruto. Dormir a sesta e acordar ao som ritmado das gotas a baterem no telhado, ou a espalharem-se no chão é sentir uma enorme dulcificação. Depois vem a noite, mais escura, mais densa, mais brumosa, a preparar-se para que o céu de madrugada se abra e volte a derramar sobre a terra o dom sagrado da chuva. Muita chuva! A necessária para que tudo nasça, cresça e se desenvolva. É verdade que umas vezes castiga, outras amordaça e algumas incomoda. Por isso é que nos atira para outras paragens, com outros destinos. A vizinha vila da Madalena é um deles. Ao regressar um sol abrasador a tornar ainda mais frutífero o dom sagrado das chuvas que o precederam, esta madrugada. De manhã anuncia-se chicharro fresco. De tarde aquieta-se o espírito. O Pico é assim. Um amontoado de emoções espontâneas, imprevisíveis. Um mundo de contrastes e enigmas. Sobretudo de enigmas, por vezes contraditórios. De manhã chuva de inverno, à tarde sol de verão. Ontem vento norte, hoje vento sul. Montanha descoberta e logo a seguir um nevoeiro cerrado até ao casario. Ontem o mar manso, hoje revolto. Sol de rachar em São Caetano. Aragem fresca e brumosa na Madalena. No meio desta panóplia de enigmas impõe-se o regresso à vila. Ao porto chega o ferry vindo do Faial. O cais de embarque a abarrotar de pessoas, de carros, de movimentos, de luz e de cores. O cais, ponto de partida e de chegada. No cais velho fervilham pequenas embarcações à espera dos que sonham, talvez amanhã, com a aventura de observar baleias ou golfinhos. No novo, para a partida carregam-se malas, trocam-se abraços, evadem-se emoções. Mas já não há homens de albarcas, chapéus de palha e calças de cotim a soltar as amarras perdidas e desgastadas pelo tempo, nem mulheres de avental de chita e lenço de merino, com cestas de fruta à cabeça. Na chegada arrastam-se sobre o pedregulho dezenas de barcos que durante a madrugada e a manhã se embalaram, ao sabor das ondas, na pesca do chicharro, das cavalas, das abróteas, das garoupas e dos bocas-negras, ou as traineiras que perseguem pesqueiros mais distantes na busca de bonitos e albacoras.

Lá ao fundo o Faial a espreguiçar-se sob uns tímidos raios de Sol a descaírem para os lados das Flores. Atrás a enorme e altíssima montanha do Pico, ravinada de lava, aspergida com salpicos de nuvens e envolvida por um clarão de imponência e singularidade. No meio, a separar as duas ilhas, o mar, azul, coroado com ondas de sonho e respingos de fascinação.

Como é tão igual e tão diferente este Pico de hoje e o Pico de ontem. Este Pico de enigmas e mistérios.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:08

MAR

Quinta-feira, 09.07.15

Quando se vive numa ilha ou, sobretudo, quando nela estagiamos apenas alguns dias, temos a agradável sensação de ter uma companhia permanente e protetora: o mar. Aqui, acolá, além, ele está sempre a nosso lado. Ainda noite escura abre-se uma porta, espreita-se por uma nesga da janela e lá está ele. Em qualquer vereda, caminho ou estrada em que se transite ele acompanha-nos. Espraiamo-nos sobre um miradouro, sentamo-nos no banco de um jardim ou debruçamo-nos sobre o peitoril duma janela e ele lá esta, à nossa espera. Umas vezes calmo, tranquilo, meigo e sossegado. Outras, roufenho, revoltado, malino, como se tivesse o diabo no corpo. Umas vezes faz-se acompanhar duma beleza ímpar, espelhando uma claridade, serena, silenciosa e acolhedora. Outras vezes, com o silêncio da noite, traz a Lua como companheira, a transformá-lo, nas noites mais claras, num imenso lençol brilhante e prateado, nas mais sombrias num enorme tapete azulado e fofo.

Hoje o mar esteve muito calmo e sereno. Por vezes parecia-me ouvir o seu silêncio. De manhã, apesar de ainda lusco-fusco me entrar pela vidraça, desprezei-o. Simplesmente fiz de conta que não existia, pese embora, ao acordar, olhasse para ele durante alguns momentos. Abraçado à intimidade do amanhecer, teimava que eu o sentisse, que o ouvisse, pelo que se fazia presente através de uma ou outra pequena onda que, rolando lentamente, se vinha desfazer, num leve e suave murmúrio, junto aos penedos do baixio, espalhando-se, de seguida, sobre os laredos circundantes. Uma irrequieta tranquilidade atraente que eu desprezei! Um murmúrio de silêncio enternecedor que eu não quis ouvir!

Mas eu enlevava-me com outras tarefas. O mundo é feito de bons e maus. Assim como os homens também os vegetais. Na terra semeia-se e planta-se os que nos vão alimentar. Cava-se, alisa-se a terra, semeia-se, planta-se, rega-se e aduba-se. Logo se aproveitam as mondas, as ervas daninhas a florescerem, como danadas, no meio deles, a atrofiá-los, a destruí-los – os feijoais, os tomateiros, as cebolas, os pimentos, as nabiças… É imperioso arrancá-las, destruí-las, deixando aos bons a possibilidade de se desenvolverem, crescendo com mais fulgor, com mais sucesso. Mais e melhor produtividade. O mar lá ao longe, entristecido, morno, pensativo. A natureza, porém, é mãe, protetora, auxiliadora. E durante a tradicional sesta no santuário do vinho - a adega - uma chuva miudinha, conciliadora, caritativa. Uma dádiva divina.

Foi esta chuva, benevolente e protetora, a escoar-se pelos contrafortes da montanha que, obstruindo a continuidade do trabalho agrícola, me fez regressar ao omnipresente mar que, apesar de toda a minha indiferença, continuava à minha espera. Não hesitei e caminhei como um louco na sua procura, com uma vontade enorme de o abraçar. Atirei-me a ele como São Tiago aos mouros! Agarrei-o, abracei-o, beijei-o, enleei-o, envolvi-me com ele numa doce, morna e suave banhoca.

Ali ao lado uma casa de lava negra, carcomida. À janela, uma velhinha também o olhava, com ternura, com carinho e, talvez com saudade. A janela, encravada na empena oeste do minúsculo casebre, abria-se e despejava-se sobre um pequeno e estreito atalho, feito de pedregulhos toscos, emaranhados entre cascalho, desenhado sobre uma rocha a arfar de silvados e vinhedos. A velhinha permanecia, absorta e alheada, com a mão direita sobreposta ao olhar, como que a tapar-lhe as incandescências que o espectro do astro-rei, no seu ocaso, deixara desenhadas no horizonte em traços amarelos, alaranjados, vermelhos e violetas.

Regresso aos campos mas a persistência da chuva obstrói qualquer atividade. O mar continua ao meu lado, sempre presente. Teima em não querer abandonar-me. O Sol há muito que se perdeu. Depressa chegará noite, serena, silenciosa e acolhedora. Mas a montanha cobriu-se de um nevoeiro, denso, aborrecido a afastar as cagarras dos seus cânticos e bailados. Acendem-se luzes, mas tão enfurecida é esta bruma e tão ávida de tudo dominar e obstruir, que se atirou à bruta, sobre o mar tirando-lhe o brilho, a quietude e o silêncio. Este mar que me perseguiu durante todo o dia, agora, envergonhado e tímido, vai-se perdendo aos poucos como se simplesmente fosse o restolho duma sombra entontecida.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:05

ADORMECER EMBALADO COM O CANTO DAS CAGARRAS

Quarta-feira, 08.07.15

O silêncio da noite, neste Pico, se conquistado no seio duma adega é deslumbrante e encantador. Como a neve do inverno, derrama-se sobre o cume da montanha e, transformando-se em sinfonia prateada, desce pelos valados e grotões, escorrendo em fios de prata até aos povoados, como se fosse uma ribeira de magia e de sonho. A noite torna-se assim numa dádiva, num dom que urge saborear. Saborear este silêncio morno, adocicado, ternurento, oferecido pela pureza original da ilha acasalada com a quietude envolvente do mar, apenas recortado pelo fascinante e mavioso canto das cagarras. Uma serenata divina, transcendente! Os machos, menos frequentes, nas suas vozes de barítonos, num encanto mais sereno e tranquilizante. As fêmeas, mais espevitadas e atrevidas, num cantarolar ondulado, com denodada intenção de, ingloriamente, desfazerem a quietude e o repouso que desce das encostas da montanha. Uns e outros em bailados de sombras, transformando o que resta do azul do firmamento numa enorme teia. É bom e doce adormecer embalado no silêncio deste cantarolar. A noite transforma-se num enorme manto de sublimidade e de sonho. O céu enche-se de mais estrelas, a terra agiganta-se em quietude e o mar transforma-se num enorme tapete prateado. É a insustentável magia da noite deste Pico paramentado de lava e de fascinação, a pedir à Lua, agora de dia para dia mais teimosa em aparecer, que cheque depressa, que torne ainda mais encantador este silêncio misterioso, esta deslumbrante mansidão em que o mar se envolve com a ilha, embebedando-a com o sabor adocicado da brisa. Tudo o necessário e indispensável para fazer esquecer os grunhidos roufenhos das cidades de cimento, o burburinho persistente das ruas apinhadas de carros e de gente, as prisões paralisantes no elevador do quinto andar, o emaranhado aterrador dos barulhos que desfazem o silêncio.

Mas se o adormecer no silêncio desta noite é deslumbrante e enternecedor, o amanhecer do dia seguinte, entre currais de lava enegrecidos e sulfurosos, é maravilhoso e sublime. O Sol tímido ao princípio, depressa se torna vivaz e corpulento e acaba por desfazer todas as sombras. É o Pico na sua excelsa e genuína pureza. É verdade que, talvez por ser muito alta e esguia, a montanha ora se banha de Sol ou de vento, ora se envolve em neblinas e chuviscos. Mas todos os cenários lhe dão uma beleza excelsa, pura e inigualável. Mesmo coberto de bruma, salpicado com os respingos de ondas altivas o Pico mantém a sua dignidade de montanha ajuizada, que atrevidamente, em cada manhã, dia após dia, com a mesma solicitude, nos abre a janela e nos visita, trazendo consigo o perfume dos vinhedos, o sabor das frutas amadurecidas, a aridez dos currais de lava,

Depois é atirarmo-nos desalmadamente à terra. Arrancar as mondas. Limpar o chão das ervas daninhas. Dar largas às laranjeiras, pessegueiros, pereiras, damasqueiros e figueiras. O bafo deste chão lávico há-de, em breve, adorná-las de flores e de frutos. A Ribeira, orlada com raios de sol e purificada com os salpicos da chuva transformar-se-á num verdadeiro paraíso terreal. O suor hoje vertido e o cansaço alcandorado nesta manhã do segundo dia transubstanciar-se-ão, mais tarde, na doçura duma laranja, dum pêssego ou de um damasco. Ao lado há feijoais a despontar. Tomateiros, cebolas e bata-doce. Alguns dos feijões mais espigadotes, já prontos para a colheita, foram imolados numa saborosa salada. Outros enriquecerão a sopa do jantar. Refeições recheadas de sabores do Pico!

Mas o melhor que cada adega tem parece ser o remanso de se poder dormir uma sesta. Prazer endémico, cerceado após meia hora, por imperativos de uma viagem à vila da Madalena. O Governo subsidia as passagens aéreas dos residentes que viajam por conta da transportadora aérea açoriana, se o valor das mesmas exceder cento e trinta e quaro euros. O pagamento é da responsabilidade dos Correios. Obviamente que é necessário apresentar documentos, provas da viagem. Faltava-me, por incúria minha, o recibo. A alternativa que me é proposta é ir pedir uma fatura aos escritórios daquela companhia aérea, situados escassos metros. O meu pedido é aceite e obtenho o documento necessário. Volto aos correios. Para espanto meu não tenho direito a receber o reembolso por quanto, embora tendo viajado após o dia 29 de março, adquiri o bilhete em 6 de janeiro, o que me faz perder o direito ao reembolso. O mais estranho é que se apresentasse o recibo seria, provavelmente reembolsado uma vez que, pelos vistos, os recibos eletrónicos não referem a data da compra do bilhete. Boa! Juro que hei-de voltar aos correios de recibo em riste!

Para sobreviver ao desencanto destas burocracias nada melhor do que um mergulho na piscina da Madalena. E que boa que estava a água! No regresso a casa ligo o rádio do carro. A RDP Açores está a transmitir, em diferido, uma entrevista com a doutora Maria Barroso, falecidaesta manhã, gravada há oito anos. Uma excelente entrevista! Deslumbro-me com os testemunhos da senhora e das interessantíssimas mensagens que eles encerram, sobre o país, a política, o governo, a sociedade, a educação, a solidariedade e, sobretudo, sobre o período após o 25 de Abril. Embevecido com os testemunhos da senhora, confesso que senti uma enorme pena de ela não ter sido Primeira Ministra deste país ou até Presidente da República.

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publicado por picodavigia2 às 00:21

CHEGAR AO PICO

Terça-feira, 07.07.15

Chegar ao Pico, de avião, é atirar-se abruptamente sobre pedaços de lava, rebolar-se sobre o restolho do enxofre e emaranhar-se nos resquícios dos vulcões, para de seguida, se amenizar com a frescura das brumas que emergem do oceano, adornar-se com o perfume dos vinhedos a abarrotar de cachos imaturos, aspergir-se com os salpicos da maresia das ondas desfeitas e cerceadas pelos rochedos negros do baixio. Chegar ao Pico é ter a agradável sensação de se abraçar a natureza original, ter à sua espera o sussurrar das fontes secas, o suco adormecido das ribeiras silenciosas e vazias, o vicejar dos feijoais, o desabrochar dos vinhedos, a sombra dos laranjais ainda imberbes… Para trás fica um Porto histórico, encastoado a sul da província duriense, a abarrotar de calor, de pessoas, de fumos, de cansaço e de obras no aeroporto Sá Carneiro. Ressalve-se a praia da Memória assinalada com o monumento que lhe deu nome, gratinada por uma desmesurada calmaria. Lá em baixo é tudo minúsculo e a orla nortenha, de Aveiro a Viana, como que se vai diluindo, aos poucos, até desaparecer por completo, como que envergonhada com o seu estaticismo, mistificado e inseguro. Mas este pássaro gigante que fura os ares, rasga as nuvens e penetra no firmamento a uma velocidade estonteante e vertiginosa, caminha como um louco perdido em deserto, na procura das ilhas de bruma. Sobe e atravessa o firmamento como se quisesse agarrar as estrelas mais distantes. No seu interior um silêncio gigantesco, embrulhado no rom-rom da maquinaria, apenas quebrado pela lufa-lufa da tripulação a servir a tão almejada e anunciada refeição ligeira. Bem ligeira que esta é! Uma sande de fiambre enfeitada com folhinhas de alface e restos de tomate… E tanta comida que havia ontem na Quinta da Lavandeira!

Absorto a tudo isto, este pássaro, gigante enlouquecido, continua a sua correria. Umas vezes, parece enraivecido, e tremelica como um moribundo, mas logo depois se aquieta, como que arrependido. Em breve ultrapassará Santa Maria e chegará à ilha do Arcanjo, que Natália Correia descreveu como …Eterna em chão escasso. Fulva de gado ao dia. À noite morna. Embebida no verde. E o mar colaço. Primeiro a Ponta da Madrugada e o Nordeste a prolongar aquela espécie de torrão pintado de um verde tão verde que jorra por toda a parte, atulhando os campos, cobrindo as montanhas, ornando os caminhos, salpicando a orla das estradas, abalroando as casas e as igrejas, correndo pelo leito das ribeiras e até se refletindo enigmaticamente na pureza imensa e infinita do oceano. Ali tudo é verde! Apenas o céu permanece, na sua essência, azul, muito azul, como se fosse um enorme manto protetor de toda aquela aguarela monumental e sublime. Primeiro o Nordeste coroado pela serra da Tronqueira, enigmático paraíso do priolo. A Povoação com os seus gigantescos socalcos, com as cristas povoadas de Lombas. Vila Franca, orgulhosa do seu ilhéu, a espraiar-se sobre o mar e a Lagoa tranquila, sossegada e sonolenta. Finalmente Ponta Delgada, povoada de igrejas, castelos, palácios, monumentosa, a indicar que o princípio de tudo começa mesmo ali.

Depois de ir saltando de ilha para ilha, por vezes sem lhes tocar, emerge lá no alto, para além das nuvens, o cone vulcânico do Pico, o mais emblemático do arquipélago, quiçá de Portugal. Perde-se e volta a aparecer, num mágico convite como que a querer convidar-nos, como que a envolver-nos num terno abraço. Uma conversa com o reverendo ouvidor da Ilha Montanha, anestesia os sobressaltos de subidas e descidas. Lá ao longe a Graciosa. São Jorge atravessado a meio e, por fim, o Pico na sua imponente plenitude. Ter um carro no aeroporto é uma dádiva dos deuses. Voltinha à chave, depois outra chave e ainda mais uma chave. A terceira é da adega, que espera submissa e ansiosa, hoje como ontem a assumir um papel importante e de destaque no quotidiano da população, nos seus costumes, tradições e até na sua própria economia. Embora vocacionada desde sempre como local de fabrico do vinho e, sobretudo, da sua guarda, a adega transformou-se numa espécie de granja onde, juntamente com o vinho, o bagaço e a angelica e, misturados com barricas e garrafões, se guardavam murmúrios e sonhos ou num granel onde, aos odores opacos e perplexos do mosto a fermentar, se adicionavam e misturavam ressonâncias mágicas e ecos de memórias e tradições, ou seja, num local de sonhos, de fascinações extasiantes e de enlevos arrebatadores. Uma espécie de epicentro da sublimidade, do enlevo, das ausências impostas, das negações forçadas e de carências postuladas, tudo isto motivado por uma insularidade rural, assumida, rústica e mística. Uma coisa é certa: o objetivo primordial, primitivo, único, insubstituível da adega ainda se mantém, porquanto, hoje como ontem e apesar do seu estatuto de multi usus, a adega constitui-se num verdadeiro “santuário”, onde o vinho é deus e o bagaço e a angelica as primícias originais da sua omnipotente e todo-poderosa obra criadora.

Depois há o périplo inicial, obrigatório e tradicional. As primícias evadem-se e enchem-nos de esperança, outorgam rugosidade. Na Funda, nos Cabeços, na Ribeira e no Dilúvio, tudo viceja e floresce. Louvado sejais Senhor por Vos dignardes enriquecerer-nos com frutos da terra!

Por fim, a noite cai e com ela desce sobre a montanha uma bruma sonolenta e triste. A ousadia do barro parece abalroar uma deserta quietude! Pela Páscoa quero voltar a este Pico, pintado de lava, para saborear o Pão de ló que há-de emergir do barro, como o suco vermelho despontará destes cachos ainda verdes e imberbes. Agora há que aguardar que o silêncio da noite desfaça os enigmas deste primeiro dia de férias, senão atribulado pelo menos turbulento. Amanhã nascerá um novo dia, o segundo. Calem-se todas as vozes, para apenas se ouvir o cantarolar das cagarras!

 

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publicado por picodavigia2 às 00:01

AS FOLGAS DO PICO

Quarta-feira, 11.03.15

As Folgas eram ajuntamento de pessoas, onde se realizavam balhos em casas especiais, geralmente, de arrumos, onde não vivia ninguém ou numa loja que tivesse alguma dimensão, muitas vezes casas de milho, com as maçarocas de milho dependuradas nos tirantes. Eram, pois momentos de descanso ou de folga em que o povo se juntava, em algumas casas ao serão ou aos domingos de tarde, depois de um dia de trabalho ou de uma semana de canseiras. Tocavam e bailavam bailes. Num ambiente quase familiar, as pessoas juntavam-se, simplesmente, para bailar. Geralmente eram organizadas pelo dono da casa que convidava amigos e conhecidos. Mas no decorrer da noite chegavam muitas pessoas de fora e eram sempre bem-vindas. Quem nunca podia faltar numa folga eram os tocadores, geralmente convidados por quem dava a folga. Deviam ser bons tocadores. O ir a uma folga exigia sempre uma roupinha melhor, sobretudo para as donzelas. É que, normalmente, ou já tinam namorado e tinha que se apresentar jeitosas, ou ainda não o tinha e, nesse caso, ainda se aperaltava melhor, para impressionar. Os participantes nas folgas, por vezes, tinham que percorrer grandes distâncias, de noite, a pé, iluminados por uma simples e tosca lanterna. A viola era fundamental. Dizem alguns historiadores que no século passado, na ilha do Pico, sempre que se juntavam alguns casais e uma viola era certo um bailarico ou uma folga. Sabe-se que a viola fazia parte da vida das famílias. Era uma herança de pai para filho, quando o pai tocador morria, havia sempre um filho que lhe herdava a viola e o substituía.

Antigamente, no Pico, o balho predominante era a Chamarrita, considerada como que a rainha das folgas.

As noites de inverno eram longas. Por vezes era difícil arranjar espaços disponíveis e capazes, pois as casas onde se realizavam as folgas eram emprestadas pelo dono. Eram muito frequentes as folgas guerreadas quando alguém se zangava e, depois, se debatia para ver qual a folga que tivera maior número de participantes. Para além da viola da terra, usava-se o violão, o violino e o bandolim. Havia também cantadores e um  mandador.

A Chamarrita era um dos mais antigos bailes tradicionais mais bailado no Pico, antigamente. Ainda hoje reúne espontaneamente a população, em festas populares e encontros ocasionais, matanças e nas próprias folgas actuais. É acompanhada por vezes por cantadores, e sempre por tocadores, com violão, violino, viola da terra, bandolim e eventualmente uma rebeca. A chamarrita é o bailo mais emblemático do folclore picoense. Era bailada tanto nas casas de folgas, terreiro ou em qualquer outro espaço destinado a ajuntamento popular, como sejam, vindimas, desfolhadas, matanças de porco ou romarias. É um balho mandado que requer mandador experiente e animado e muita arte e perícia por parte dos participantes. A chamarrita acaba sempre com a expressão “Olha o Pico”, dita por um tocador ou cantador.

 

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publicado por picodavigia2 às 14:31

MARÇO DAS VINHAS E DAS BATATA

Segunda-feira, 09.03.15

O Pico, em Março, atafulha-se numa das mais extravagantes e enigmáticas etapas da sua safra original, pura e primitiva, o cultivo da vinha. A etapa que se encaixa em março é a da poda das vinhas. No Pico, podam-se as vinhas em março, no vazante posterior à primeira lua cheia, sendo que nesse dia é proibido, por imperativos meteorológicos, podar. Daí que por estes dias, posteriores a cinco, os currais, os maroiços e os terrenos onde a vinha se cultiva atulham-se de podadores. Uns mais experientes e com maior performance, com um amplo e recheado currículo, outros debutantes, principiantes sem experiência, lançando-se numa inebriante mas cansativa aventura. Podar não exige grande sabedoria nem nenhum mestrado mas implica um conhecimento empírico, intuitivo, que os podadores picoenses vão transmitindo de geração em geração. Os cortes, no ramo selecionado, devem ser feitos em suta, isto é de forma oblíqua, dois ou três nós acima do rebento na Saibel e três ou quatro na Isabel. De resto, uma boa e bem afiada tesoura, muita força e destreza e a poda está feita. As vinhas rebentam, florescem e encher-se-ão de belos e sumarentos cachos.

Mas março é também, aqui no Pico, o mês da semeadura das batatas. As batatas destinadas à semente devem ser as melhores, sendo regra geral compradas, sob a designação de batata de semente. Depois de adquirida a batata, antes de ser semeada deve ser cortada em generosos pedaços, sendo que cada um tenha, no mínimo, um olho, a fim de que, depois de lançado à terra dê origem a um forte e destemido pé de batata. No subsolo desenvolver-se-ão excelentes e saborosas batatinhas. Aconselha-se que as batatas assim cortadas aguardem a semeadura e permaneçam durante dois ou três dias. Só então deverão ser semeadas. Tarefa um pouco mais árdua do que a poda da vinha, porquanto, para quem não tem maquinaria adequada, terá que abrir, com algum esforço, regos após regos, onde as batatas são carinhosamente colocadas. Feito com arte e sabedoria consegue-se que cada rego se cubra com o abrir do que se lhe segue e assim a batata fique perfeitamente soterrada. Contrariamente à vinha que nasce entre as rochas de lava e em terrenos pedregosos, a batata requer bons terrenos de leiva de boa qualidade, devendo os mesmos serem estrumados ou adubados utilizando-se, preferencialmente, o estrume verde ou seja o tremoço.

Março ainda é o mês do cebolinho, das favas, feijões, ervilhas ou da plantação de alfaces e pimentos. Segundo a tradição picoense e a sabedoria popular, os produtos que germinam ou se desenvolvem debaixo da terra devem ser lançados à terra no crescente enquanto os que crescem sobre a terra devem sê-lo no vazante. Março de sol radiante e de tempo bonançoso, no Pico, é também o mês das vacas parirem, de se amarrarem à estaca, alimentadas por forrageiras, adubando o terreno que em abril será lavrado e condenado ao cultivo do milho.

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publicado por picodavigia2 às 11:07

OS BAILHOS

Domingo, 08.03.15

De acordo com pesquisas efetuadas, sobretudo junto de pessoas mais idosas, pelo grupo folclórico da Casa do Povo de São Caetano do Pico, muitos e variados eram os bailhos de outrora e que tinham lugar não só naquela freguesia, mas em toda a ilha do Pico, sobretudo, nas célebres folgas ou serões onde se dançava. O grupo, atualmente, inclui no seu repertório muitos destes bailhos, considerando-os como o reflexo de todo o viver das gentes de uma freguesia simples e modesta como são quase todas as da ilha montanha. No entanto, os seus bailhos e melodias têm um ritmo próprio, vivo e contagiante, que se coaduna com a agitação espontânea das suas gentes, conforme se pode ler no site daquele grupo.

Entre esses bailhos destacam-se o pezinho, que é um dos mais característicos e representativo do folclore da freguesia e espelho da sua autenticidade. É um bailho completamente distinto dentro das diversas variantes de “Pezinhos” conhecidos em outras ilhas açorianas. A Joanita é uma moda que não sendo considerada um bailo de roda, tem uma coreografia muito viva e interessante. A letra, feita ao jeito do povo, sãocaetanense e conta uma história de amor vivida entre dois primos: Joanita e António.

O baile Cá-sei, também é conhecido noutras localidades da ilha por Abana, Bailho da Casaca ou simplesmente Casaca, não é, por conseguinte, um exclusivo da Ilha do Pico, nem muito menos de São Caetano estando também presente no folclore de outras Ilhas. Consoante o local, diverge ainda, ao nível do ritmo e da letra. Maria Tomásia ou Volta no Meio é um exclusivo da Ilha do Pico. Maria Tomásia é a típica mulher do Pico que trabalhava em casa e na terra. Uma mulher que, para além de cuidar da casa e dos filhos, era capaz de acompanhar o homem nas lides árduas do campo, mas que não se deixava vencer pelo cansaço nem pelo sofrimento. Segue-se a Tirana é um dos bailhos mais harmoniosos do folclore da Ilha do Pico. Tem uma letra bonita que evoca a figura feminina e a sua imagem, pois sempre foi uma constante do homem do Pico, um homem que para além dos seus ofícios tinha sempre um espaço dedicado ao amor e à família. O Chiu-Chiu é uma moda já pouco conhecida na Ilha do Pico, pois trata-se de  um bailho muito antigo e localizado em comunidades mais isoladas. A sua coreografia e bsolidão. Justifica-se assim a expressão chiu chiu. A Praia também é um bailho muito antigo, pois remonta ao Século XVIII, sendo comum às ilhas do Pico e do Faial. Crê-se ser originário destas ilhas e criado por influência dos antigos marinheiros e corsários que demandavam estas paragens. A Praia reflecte nitidamente a envolvência do homem das ilhas com o mar. A Sapateia, também conhecida por Sapateia de Cadeia, é considerada como a fina-flor dos bailhos de roda do folclore de São Caetano e da ilha do Pico. É um bailho típico das casas de folga e disputado pelos melhores e mais esmerados bailadores pelo seu grau de dificuldade. É o mais vivo, o mais variado e o mais ritmado de todos os bailhos do folclore de São Caetano Tem a particularidade de ser a letra a mandar o bailho nas suas mudanças coreográficas. O Mané Chiné é, certamente, o bailho mais alegre e ritmado do repertório do grupo. Apesar de todas as dificuldades que os nossos homens e mulheres passavam, o Mané Chiné é o reflexo da boa disposição, vontade de viver que nutriam. À semelhança do Pezinho e da Chamarrita, o Rola era um dos bailhos característicos das folgas. As folgas eram os momentos em que o nosso povo se reunia numa casa, pelo serão e bailava algumas modas, esquecendo as dificuldades das vidas de então. O ladrão é um bailho que demonstra evocar os amores proibidos de então. É vivo, cadenciado e é o reflexo de grande diversidade de ocasiões para os encontros fortuitos. Por fim, mas não o menos importante, a chamarrita o bailho dos bailhos e o mais emblemático do folclore picoense. Era bailado tanto nas casas de folgas, como num terreiro, eira ou em qualquer outro espaço destinado a ajuntamento popular, como sejam, vindimas, desfolhadas, matanças de porco ou romarias.É um bailho mandado que requer ao mandador experiencia e animação e aos executantes, arte e sabedoria. Ainda hoje, e à semelhança dos nossos antepassados, é interpretada espontaneamente e já com variantes em todas as Ilhas dos Açores.

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publicado por picodavigia2 às 17:20





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