PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TERESINHA DE JESUS
Uma dos jogos ou brincadeiras muito frequentemente realizadas pelas meninas, na Fajã Grande, na década de cinquenta, era a “Teresinha de Jesus”. Tratava-se de uma espécie de baile ou dança de roda que as raparigas organizavam, para se divertirem, nos recreios da escola, nas tardes de domingo, nos serões das Alvoradas das Casas do Espírito Santo ou noutros lugares e momentos onde tivessem oportunidade de o fazer. Dando as mãos umas às outras, formavam uma grande roda e iam circulando, embaladas pelo som do canto das suas próprias vozes. Cantavam a música “Terezinha de Jesus”, uma melodia bastante harmoniosa e fácil de decorar. Uma vez que este baile também era realizado pelas raparigas mais crescidas e já namoradeiras, havia quem entendesse esta brincadeira como uma espécie de jogo amoroso ou uma charamba que teria sido trazida para as ilhas pelos primeiros povoadores, uma vez que sabe que remonta aos tempos mais recuados do povoamento das ilhas e que era conhecida noutras paragens, nomeadamente, na Madeira, de onde se cuida que possa ser originária.
Na Fajã Grande era realmente considerada uma espécie de cantiga de amor, em que as meninas, sobretudo as mais crescidas, aproveitavam a oportunidade para manifestarem os seus sentimentos ou fazerem uma espécie de corte ao seu amado, aquele a quem, se não davam a mão, pelo menos dirigiam um olhar carregado de simbolismo, de emoção e, por vezes, até comprometedor.
“Teresinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Teresa deu a mão
Teresinha levantou-se
Levantou-se lá do chão
E sorrindo disse ao noivo
Eu te dou meu coração
Dá laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Da morena mais bonita
Quero um beijo e um abraço.”