PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TODOS OS NOMES
Os nomes das pessoas servem para identificá-las no seu relacionamento e na sociedade e são a única forma de se associarem, o que dura por toda a vida e subsiste para além da morte. Os nomes, para além de terem um significado que a maioria dos que os usam desconhece, também podem definir o caráter e a personalidade de cada pessoa. Eles ainda podem influenciar positivamente ou negativamente a vida a quem são atribuídos. Mas o mais interessante ainda é que os nomes nunca são escolhidos pelo próprio, mas sim pelos pais ou por alguém que os substitua e têm, geralmente uma pequena história mais não seja a de o simples relacionamento com algum antepassado muito próximo.
Lá em casa, algures na Assomada, na década de quarenta e no início da de cinquenta, nasceram seis rebentos a que se impunha, naturalmente, escolher e por um nome. Na maioria dos casos parece não ter sido difícil a João e Angelina tomar uma decisão onomástica sobre cada um dos filhos.
Assim, o primogénito, nado no último ano da década de trinta, como era costume na maioria das famílias da Fajã Grande naqueles tempos, recebeu o nome do padroeiro da freguesia, José. Para além de homenagear o esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus, mantinha-se uma antiga tradição e, além disso, perdurar-se-ia a memória do avô materno, também ele chamado José, por ter sido o primogénito.
Seguiu-se uma menina e o terceiro parto foi um rapaz. Nascidos já em plena década de quarenta, num tempo em que o relacionamento com os familiares maternos da Fontinha parecia estar em galopante e acentuada turbulência, receberam os nomes dos avós paternos Maria de Jesus e António. Chegou o quarto rebento, por coincidência, o autor destas linhas. Apesar de decrescente e em decadência acentuada, a turbulência ainda existia, embora em menor escala, mas deixara vestígios. Foi o pai que decidiu:
- Vai chamar-se Carlos em homenagem a um dos meus irmãos emigrado para a América. Entre todos os que para lá foram, é o que mais me tem ajudado e que, além disso, tem um filho com o mesmo nome.
Para além do mais, o primo meu homónimo, era mordomo da irmandade de São Pedro, do qual meu pai era procurador. Por altura da festa era o meu tio que pagava a carne, mandando o dinheiro da América. Porém éramos nós que a recebíamos juntamente com o pão.
A seguir veio outra menina. Meu pai entendia e desejava que se chamasse Helena. À semelhança do irmão Carlos, Helena era a irmã que mais consideração tinha por ele, que mais o ajudara e que ele mais amava. Mas as tias da Fontinha, agora com as pazes feitas, entenderam que não devia ser assim. Helena não era nome bonito e além disso já havia nomes que sobejassem do lado paterno. A criancinha agora nada, havia de herdar um nome do lado materno. Mas a oposição dos pais parece ter sido clara:
- Se não tem nome do lado da Assomada também não o terá do lado da Fontinha. E assim, a segunda menina chamou-se Vitória, nome aliás muito comum na freguesia, naqueles tempos.
Finalmente chegou o último rebento. Um rapaz que, desta feita, herdou nome das bandas da Fontinha, creio que não tanto para satisfazer as exigências das tias mas porque o tio em causa, para além de irmão da minha mãe era seu afilhado. Chamou-se Francisco.