PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TROVÃO NO INVERNO
“Trovão no inverno, tempo moderno (bonançoso).”
Este era um dos adágios mais interessantes e mais utilizados, antigamente, pela população da Fajã Grande, sobretudo pelos mais velhos. Quando trovoava em pleno inverno logo diziam:
- Trovão no inverno, tempo moderno.
Por um lado, talvez, pretendessem acalmar as crianças geralmente muito sensíveis a fortes trovoadas, mas por outro estavam a impor a sua sabedoria secular. É que a trovoado de inverno, regra geral acalma as tempestades, enfraquecendo quer o vento quer a chuva. Assim a trovoada no inverno era indicativo de que se seguiria bom tempo. Aliás a trovoada no inverno era mais rara, embora, na Fajã Grande acontecesse com alguma frequência o suficiente, mas é possível. As estações do ano mais propícias a trovoadas são a chamada primavera-verão, nessa altura seguidas de fortes temporais. Por isso o povo também utilizava um outro adágio: Trovão no verão água na mão. No inverno, geralmente não se viam os relâmpagos, uma vez que o céu está coberto de nuvens, enquanto nas noites de primavera faiscavam no horizonte. O povo classificava-os como o céu a abrir, dado que só via os relâmpagos e não se ouviam os trovões. Estas manifestações atmosféricas dizia-se, eram sinal de mau tempo. Segundo a metereóloga as trovoadas podem-se formar no interior das massas de ar (a partir da elevação do ar por convecção - comum em terra nas tardes de verão - quando o aquecimento da superfície atinge o seu pico - e sobre o mar nas madrugadas de inverno, quando as águas estão relativamente quentes)...
Acrescente-se que o termo moderno, nas Flores quando se refere ao tempo significa bonançoso e quando se refere a pessoas, geralmente tratando-se de crianças, significa sossegado, moderado de maneiras.
Assim o povo da Fajã Grande apenas confirmava com este adágio um ditado popular muito conhecido: A seguir à tempestade vem a bonança, embora utilizado, sobretudo, no sentido figurado: quando uma pessoa passa dificuldade, investe e depois colhe, ou ganha.