PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
UM MAR DE ISOLAMENTO
A freguesia da Fajã Grande ocupava, juntamente com a Fajãzinha, um ampla fajã delineada a Oeste pelo mar e a Norte, a Leste e a Sul por uma altíssima rocha que a separava do resto da ilha, isolando-a das restantes freguesias e das duas vilas – Santa Cruz e Lajes. O isolamento era tal que até as deslocações à freguesia mais próxima, a Fajãzinha, sobretudo no Inverno, tornavam-se bastante difíceis e por vezes impossíveis. Era necessário atravessar Ribeira Grande, muito larga, sem ponte e com um caudal fortíssimo. As margens ligavam-se por uma fila de enormes calhaus, mais ou menos alinhados, alguns ali colocados pela natureza outros pelos homens, relativamente próximos uns dos outros. Chamavam-se “passadeiras”. Quem se aventurasse a atravessar a ribeira, teria que o fazer saltando de calhau em calhau, o que, por vezes e para os menos afoitos, provocava escorregadelas que, para além do susto, encharcavam uma boa parte da roupa. Os animais atravessavam-na a pé ou a nado. A ribeira, no entanto, não dificultava apenas as deslocações à Fajãzinha. Era por ali também que se ia às vilas ou às outras freguesias. Apenas para Ponta Delgada se virava a Norte, subindo a rocha da Ponta, percorrendo um sem número de atalhos e veredas, muitas vezes saltando tapumes e atravessando relvas para encurtar caminho. Para os Cedros a as viagens eram ainda mais difíceis mas muito raras.
Todas estas deslocações para além de muito difíceis eram também demoradíssimas. As ligações por mar não existiam.
O isolamento era total, absoluto e permanente.