PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
UM PARAÍSO ENCAFUADO ENTRE O MAR E A MONTANHA
A freguesia de São Caetano do Pico, pertencente ao concelho da Madalena, fica situada na parte Sul da ilha e alojada no regaço de uma pequena baía, denominada “Baía da Prainha”, onde assenta um pequeno porto, actualmente quase desertificado e dedicado exclusivamente a pequenos barcos de pesca e recreio ou a “banhocas”. A sua zona costeira, actualmente, é muito procurada por mergulhadores, por ser possuidora de espaços submarinos de rara pulcritude.
Esta freguesia possui uma beleza ímpar e uma singularidade singela em boa parte, devido à sua posição geográfica, dado que fica instalada entre o mar e a imponente montanha do Pico. É essa singularidade que lhe vai dispondo o casario ao longo de encostas soalheiras e montanhosas, ao mesmo tempo que lhe sulca e encrava os vinhedos, as florestas, as pastagens e, sobretudo, os terrenos de cultivo e de mato por entre socalcos de ribeiras e de ravinas, designadas por quebradas, sendo mesmo a freguesia que mais se aproxima da altíssima e magmática montanha. Por tudo isso recebe influências climáticas únicas e ímpares beneficiando da protecção dos ventos norte e noroeste que sopram, desalmadamente, durante o Inverno ao redor daquele enorme gigante de lava que é a montanha do Pico. Assim e quando o vento sopra vigoroso, roufenho e frígido, acompanhado por fortes chuvadas, nas restantes freguesias da ilha, São Caetano goza de um clima ameno, de um Sol radiante e de uma calma e tranquilidade invejáveis. Mas mesmo quando o vento sopra de sul, revoltado e furioso, criando um enorme e tremendo reboliço na terra e sobretudo no mar, a paisagem adquire uma beleza transcendente, enigmática e contagiante. Assim é, em Novembro, São Caetano e de um modo especial a Prainha do Galeão. É também a proximidade da montanha que dá grande sinuosidade ao território, assinalando-o com diversas elevações designadas cabeços: o da Prainha e o do Mistério, a Rocha Vermelha e o Paul ou sulcando-o por várias ribeiras: da Prainha, do Dilúvio, da Cancela, da Grota, da Laje e a Ribeira Grande. Esta sinuosidade fez com que os antigos caminhos fossem, na generalidade, autênticas canadas, sendo que algumas delas, em boa hora recuperados e reconstruídos, foram transformados, actualmente, em trilhos turísticos que conduzem qualquer viajante a apreciar o rico património paisagístico desta localidade, destacando-se o trilho da canada de São Caetano que se inicia junto à Prainha do Galeão, em forma de escadaria e o da canada da Ribeira da Prainha, trilho que ligava a Prainha do Galeão à parte superior da freguesia e que era usado por pescadores e baleeiros. Local de interesse histórico e paisagístico é também o Largo das Fontes, situado no antigo acesso às pastagens dos matos e famoso pelas suas fontes e como local de encontro e descanso dos homens que dia a dia subiam as encostas da montanha a tratar do gado ou até tirar-lhe o leite. Junto ao mar, para além das ruínas de um antigo poço de maré, infelizmente abandonado por indesculpável incúria, situam-se as tradicionais adegas feitas de pedra de lava e que enriquecem, não apenas a paisagem, mas também a história e a cultura locais. Ainda, mais junto ao mar, a antiga casa dos botes baleeiros, actualmente como que transudada em vivenda e um nicho dedicado a São Caetano, precisamente no local onde os primeiros colonos que ocuparam aquela localidade terão construído uma ermida dedicada ao padroeiro, contento o referido nicho uma suposta pedra da mesma e a primitiva imagem de São Caetano. Foi também neste local que um dos primeiros povoadores, de seu nome Garcia Gonçalves, mandou construir um galeão como forma de pagamento de dívidas ao rei Dom João III. Essa a razão pela qual esta localidade, popularmente, ainda hoje se chama “Prainha do Galeão”.