PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
UMA POBRE MULHER
Era uma pobre mas honrada e trabalhadora mulher que quando saía de casa para ir trabalhar os seus campos, juntamente com o seu marido, deixava os filhos sozinhos em casa mas, mas antes de parir, dizia às suas vizinhas:
- Ó vizinhas, se ouvirem os meus filhos chorarem, façam-me o favor de os ir buscar para as vossas casas e dar-lhes de comer.
As vizinhas, empertigadas, respondiam com desdém:
- Nosso Senhor não é surdo, ainda a há-de castigar esta desavergonhada.
Passado um ano, a mulher ficou grávida e teve dois filhos gémeos. Como já era de idade, não tinha leite que chegasse para as duas crianças. Assim, quem os criou foram duas cabras que a mulher possuía. Um ano depois voltou a ficar grávida e teve três gémeos, duas meninas e um menino. Também estes foram alimentados com o leite das cabras.
Cuidavam as pessoas que isto era um castigo por a mulher abandonar os filhos.
Certo dia viram aparecer no lugar onde a mulher vivia, vinda não se sabia de onde, uma velhinha que se acomodou num velho palheiro nas proximidades da localidade. Todos os dias a velhinha, depois de a mulher sair para trabalhar os seus campos, dirigia-se para a casa onde as crianças estavam sozinhas. Ninguém sabia o que a velha fazia pois tinha as portas sempre fechadas e saía sempre antes que a mãe das crianças regressasse dos campos.
Viveram neste mistério durante algum tempo. Mas depois, para espanto de todos, as crianças começaram a sair de casa e a andar pelas ruas mas estavam todas muito gordinhas, sinal de que não haviam passado fome e que tinham sido bem tratadas.
O povo compreendeu, então, que afinal se a mulher saía para os campos e pedia às vizinhas para lhe cuidarem dos filhos era porque era muito pobre e necessitava de trabalhar nos campos para os poder criar.
A partir de então toda a gente ajudava, sempre que ela necessitava, a pobre e honrada mulher.